Se você olhar ao seu redor, verá que há coisas que parecem ser opções, mas também ordens culturalmente fixadas. É o caso do consumismo nos países ocidentais ou de ter muitos filhos em vários países. Estudos mostram que casos assim não se tratam de preferências pessoais, mas de normas sociais às quais as pessoas aderem de maneira inconsciente.
Mudar padrões como consumir menos do que os seus amigos ou ter menos filhos do que seus avós, por exemplo, aumentam a felicidade média na sociedade. A conclusão é do pesquisador Scott Barrett e um grande grupo de cientistas das Nações Unidas, Europa e Estados Unidos. "Todo mundo tem o direito de escolher livremente. Assim, parece que há pouco que se possa fazer sobre esses assuntos", explicou em um artigo o professor Marten Scheffer, da Universidade de Wageningen (Países Baixos). Mas em contraponto, um novo estilo de vida tem despontado: o minimalismo. Com a ideia de que "menos é mais". O estilo prega que a felicidade não está nos itens físicos e incentiva as pessoas a usarem suas energias em experiências, não em bens. Segundo o psicólogo Gilberto Gaertner, o minimalismo conquista cada dia mais adeptos e ajuda a repensar no consumo, na produção de lixo e no relacionamento com o espaço. "É uma busca de simplificar a forma de viver e experimentar somente o essencial para a sobrevivência."
O desapego pode ajudar a desestressar e a ter mais tempo, já que manter menos coisas pode significar uma economia de tempo. Além disto, pode ser um incentivo para a superação de emoções negativas: "Simbolicamente, ter mais espaço externo e se desapegar de muitas coisas pode dar margem para abrir mais espaço interno e se desapegar também de lembranças, pessoas e sentimentos que não fazem mais sentido para a sua vida, diz ainda.
Diferente de viver com muito pouco
Optar pelo estilo minimalista, apesar do que muitas pessoas pensam, não é sinônimo de viver com muito pouco. É preciso entender o que é importante, o que pode ser prático e, também, reduzir o que apenas ocupa espaço.
"O minimalismo é um movimento contra-hegemônico, que representa um novo estilo de vida, dentro da sociedade capitalista. Os seus adeptos passam a criticar o consumismo desenfreado, as formas desenfreadas de produção, a descartabilidade, a perda da qualidade de vida em nome do trabalho e outros aspectos e passam a viver de outra maneira, sem uma orientação para o consumo. Trata-se de uma desaceleração com foco em sustentabilidade, no sentido macro. Em ter uma vida mais equilibrada, sem a necessidade de 'ter' o tempo todo", explica Marcelo Mocarzel, pesquisador de educação, comunicação e cultura da Universidade Federal Fluminense (UFF) e da PUC-Rio.
O movimento traz características de movimentos contraculturais dos anos 1970, 1980, como os hippies e os punks, mas de outra forma. Eles não pregam o rompimento ou uma sociedade alternativa, mas uma mudança de dentro, por dentro do capitalismo. Trata-se de um movimento individual, familiar e nem sempre coletivo.
Há muita dúvida sobre o que deve ser guardado que não é funcional e que, simplesmente, tem apenas um apego sentimental. "Não existem fórmulas mágicas que sirvam para todas as pessoas. Para algumas, manter lembranças faz sentido e pode ter muito significado. É uma decisão pessoal e cada um deve respeitar seus sentimentos", explica Gaertner.