O estudante Pedro Henrique Lemenn, 22 anos, decidiu se afastar das redes sociais por um tempo. No ano passado, ele desativou o Facebook e o Instagram. "Eu me afastei um pouco das redes sociais para conseguir pensar por conta própria. Somos bombardeados o tempo todo com muita informação, eu estava gastando todo o meu tempo nas redes. Deixei de fazer muitas coisas que eu gostava ao ar livre porque me mantinha o tempo todo conectado, então me afastei para voltar a interagir com o mundo real", explica.
Lemenn não está sozinho nesta decisão de dar um tempo. Ele segue o comportamento de milhares de outros jovens que participaram do estudo Digital Society Index (DSI), da Dentsu Aegis Network, agência de pesquisa digital(Reino Unido). Foram ouvidas 32 mil pessoas pelo mundo durante o primeiro semestre do ano passado e os resultados mostram uma maior consciência dos jovens em relação ao uso da tecnologia. A maior preocupação apontada pelos que decidiram abandonar o mundo virtual são os danos à saúde mental.
O estudo mostra que um quinto dos 5 mil jovens ouvidos entre de 18 a 24 anos, a chamada geração Z, ou os "Gen Zers" em inglês, desativou suas contas na mídia social em 2019, enquanto um terço está limitando o tempo em seus telefones. Mesmo com o distanciamento social, 17% deles optaram por desativar suas contas na mídia social nos últimos meses. Em todo o mundo 31%, limitaram o tempo que passaram online, enquanto 43%, decidiram reduzir a quantidade de dados compartilhados online, tais como limpar seu histórico de busca ou desativar serviços de geolocalização. A prática é duas vezes maior entre os jovens do que entre os usuários com mais de 45 anos.
O dilema das redes
Mesmo sem comprovação científica que aponte a sólida relação direta entre saúde mental e o uso de redes sociais, muitos estudos sugerem que a tecnologia pode ser agravante para os distúrbios emocionais. O assunto é tratado em um documentário da Netflix: "O Dilema das Redes". Tristan Harris, ex-funcionário do Google que participa do especial, fala sobre o risco à privacidade. Para ele, as pessoas estão se tornando produtos do Facebook, Instagram, Twiter e outras redes. Na opinião dele, o vício seria o maior prejuízo psicológico.
Depressão, ansiedade, pânico, insônia, falta de energia e de tempo, burnout e fadiga da decisão são sintomas e doenças como essas derivam das reações primitivas do cérebro humano diante a contemporaneidade. Um estudo do neurologista e escritor best-seller Leandro Teles, autor o livro "Os Novos Desafios do Cérebro (ed. Alaúde), trata das dificuldades de viver em uma era em que energia vital é sugada pelas tecnologias.
Mas será que temos que abdicar da modernidade? Devemos recuar no tempo e viver como antigamente? "Minha resposta é não. Não acredito em um caminho de volta. Na verdade, o que precisamos é de um novo caminho de ida. Precisamos deixar a modernidade para trás e ser ultramodernos, almejar um tempo adiante do nosso, um tempo que valoriza o cérebro como o ativo mais nobre e raro que temos", escreve.