Foi um ano difícil, de obstáculos diversos e intransponíveis para grande parte dos estudantes brasileiros. Pandemia, perdas humanas de familiares, de amigos e da própria vida. Dificuldade ou impossibilidade de acesso à internet, exploração de trabalho infantil, solidão, tristeza, evasão escolar, com alunos tensos, ansiosos, frustrados e sem concentração. Professores e funcionários do quadro escolar sobrecarregados, ansiosos, temerosos por suas vidas e pela vida de seus familiares. Tudo isso a gente já sabe, tudo isso a gente enfrenta, a gente sofre, lamenta e luta por dias melhores.
Hoje, no pior momento da pandemia, gostaria de pedir licença ao leitor para trazer mensagens positivas do universo da educação e da saúde. Não quero ser julgado inconsequente, leviano ou isentão. Todavia, vejo a necessidade de enfatizar situações positivas que nos restabelecem a esperança, a fé e o desejo humano para acordar e buscar planos, metas, horizontes. Tenho sede de futuro tanto quanto meus aprendizes. E tenho fé também.
Vamos lá. De início, o ensino remoto. Em março de 2020, eu não sabia como usar Zoom ou Meet. Não sabia gravar aulas, fazer ou participar de Webnários. Não creio que seja, hoje, decorrido um ano, um expert, um youtuber ou um digital influencer. Ainda assim, são tecnologias que já domino para trabalhar. Tive de me reinventar aos 50 anos, após 32 anos de sala de aula. Passei pelo giz, pelo powerpoint, pelas aulas interdisciplinares e, agora, pela revolução acelerada do ensino remoto. Como diz a máxima: mestre não é quem sempre ensina, mas quem, de repente, aprende. Sofri, chorei, perdi vídeos, mas aprendi. Sinto-me tão feliz por vivenciar, cinquentão, uma lição de Guimarães Rosa.
Em seguida, os alunos. Como descrever um público tão especial? A despeito de todas as adversidades e de minhas inseguranças quanto ao uso de tecnologia para ensino virtual, meus alunos, majoritariamente, foram bem nos exames, nas provas, no Enem. Alunos aprovados em medicina na USP, na Unicamp, na Famerp, em Administração na FGV. Uma quantidade imensa de alunos nota 960 e 980 (mil cortado, com pelo menos um corretor atribuindo nota mil) no Enem. E, para coroar o êxito de meus pequenos mestres, uma aluna, a Bianca, tirou uma das 28 notas mil no Enem. Logo, tenho uma aluna nota mil no Enem em ano de pandemia. Resiliência, empenho, trabalho árduo. A alegria é indescritível.
Por fim, a Covid-19 e a medicina. Enfrentei um quadro delicado da doença. Não sei como contraí, pois sigo os protocolos, o isolamento social, os decretos. Internado na Beneficência Portuguesa, recebi um tratamento humanizado, ético, correto. Médicos, enfermeiros, pessoal da limpeza, da cozinha, do centro de imagens, da secretaria. Todos foram atenciosos, dedicados, pacientes e incríveis. Minha gratidão e estima são incalculáveis. Aos profissionais da saúde, vocês são heróis, e me dilacera o coração quando algum desavisado duvida de um certificado de óbito. A vocês, obrigado por tudo, pela atenção, pela vida. Aos alunos, obrigado por fazer o trabalho valer a pena - para mim, vocês são sempre mil!
WASHINGTON PARACATU, Professor de Língua Portuguesa e Redação em Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço às terças-feiras