Conforme Wilson Donizete Liberati, não resta dúvida de que o narcotráfico, atualmente, alimenta um mercado que movimenta bilhões de dólares não só no Brasil, mas também em todo o mundo, acabando por constituir um fator primordial para a violência social, porquanto a própria sociedade se torna vítima da guerra constante entre traficantes e policiais. Como consequência, o país acaba por mergulhar em uma crise sem barreiras.
Infelizmente, muitas crianças e adolescentes começam a caminhar para os chamados 'valores sociais invertidos'. Na medida que entram em contato com os traficantes, estes acabam lhes oferecendo um mercado de trabalho sedutor, no qual é garantido um rendimento muito maior do que aquele que lhes é oferecido, quando oferecido, licitamente. Desse modo, esses jovens acabam sendo vítimas costumeiras dos grandes operadores do tráfico e, não raro, acabam considerando-os verdadeiros 'heróis'. Assim, ao iniciarem suas tarefas, já traçam planos profissionais para o futuro nesse mercado ilícito. Para garantir a presença de crianças e adolescentes nesse mercado, e incentivar o recrutamento de outras, a audácia dos traficantes chega ao ponto de inovarem na criação de métodos para a ampliação desse mercado: oferecem a elas bolsas de estudo, vales-refeição, viagens para o litoral, assim como inúmeras outras 'vantagens' em troca de serviços prestados, dentre eles o de 'olheiro' (fiscalizam a área do tráfico e mantém os traficantes informados), o de vendedores de drogas e até o de trabalhar na contabilidade, função essa que requer grande responsabilidade.
Também é preocupante a questão da prostituição infantil no Brasil. Inúmeras crianças não chegaram nem aos dez anos e são obrigadas a abandonar brincadeiras sadias, próprias da infância, para viver em total regime de escravidão sexual. A prostituição infantil, na maioria das vezes, atinge meninas de tenra idade, mas também é comum a presença de meninos nesse mercado. O principal motivo que coloca esses jovens nesse triste caminho é, sem dúvida, a miséria de suas famílias, fator que contribui para a falta de unidade no lar, estimula a violência, o uso de drogas, o alcoolismo, dentre outros malefícios. Como consequência, essas crianças acabam buscando, inocentemente, nas ruas, o que não encontram em seus lares, ou seja, amor, amizade, comida, dinheiro, etc.
Apesar do empenho do governo objetivando identificar as principais causas de prostituição infanto-juvenil e os responsáveis que levam crianças e adolescentes a frequentar esse tipo de 'mercado de trabalho', conclui-se que o principal agente causador dessa triste realidade encontra-se na miséria e na consequente desagregação familiar (lares onde a presença da violência se faz constante), cabendo à sociedade a criação de políticas sociais de prevenção contra esses atos, aliados ao poder de denúncia contra aqueles que contribuem para a expansão desse ramo de atividade.
Uma das melhores políticas públicas disponíveis, barata, já estruturada e pronta para ser utilizada, não requerendo maiores formulações, projetos etc, é o trabalho formal, com carteira assinada, fora do período escolar. O trabalho para o adolescente é um instrumento altamente eficaz para tirar meninos e meninas das ruas, da ociosidade, dando-lhes sentido de disciplina, organização, valores sociais comunitários, como respeito ao próximo, aos mais velhos, entre tantos outros benefícios.
Portanto, não há espaço para se duvidar do poder do trabalho como meio importante de educação de nossos adolescentes, ou se fechar na concepção ultrapassada de que o trabalho se resume a um meio de exploração a serviço do dono do capital. A dura realidade da exploração, pelo tráfico e pela prostituição, é muito maior do que concepções anacrônicas político-ideológicas.
EVANDRO PELARIN, Juiz da Vara da Infância e Juventude de Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço às sextas-feiras