Conhecer é o ato de apreender, entender ou compreender algo, por meio da experiência e do raciocínio. O conhecimento fascina a espécie humana, pelo menos uma parte dela, desde sempre. Esse cobiçado bem, abstrato e inalienável, empodera quem o possui, intimida, apavora e desperta a ira dos ignorantes, mas envolve renúncias, desilusões, muito estudo, questionamentos, debates e dúvidas.
Quanto mais profundo o conhecimento, mais amplas as possibilidades de pensar sobre um tema ou evento, maior a gama de causas e consequências a serem consideradas. A verdade é desencantadora. A ignorância é o sustentáculo das certezas equivocadas. Quanto mais difícil é o entendimento, mais as pessoas atribuem a Deus e aos outros as causas de todos os males e eventos negativos de seus fracassos e também de suas conquistas pessoais.
A ignorância é a matriz da superioridade ilusória, condição na qual uma pessoa, com pouco ou nenhum conhecimento, acredita saber mais do que os especialistas no assunto. Quanto maior a ignorância sobre determinado tema, mais incapaz uma pessoa é de perceber a sua própria limitação. Desse modo, ela desenvolve convicções errôneas, toma decisões desastrosas e conquista o descrédito público.
Estudos realizados pelos pesquisadores Justin Kruger e David Dunning, da Universidade de Cornell, em 1999, demonstraram que a ignorância, em diferentes habilidades, gera mais autoconfiança do que o conhecimento. A ilusão de superioridade, conhecida como efeito Dunning-Kruger, propõe que pessoas incompetentes não conseguem reconhecer a própria falta de habilidades e não reconhecem as habilidades genuínas de outras pessoas. No entanto, após serem treinadas, conseguem reconhecer e admitir a própria incompetência, percebem e aceitam a competência alheia e melhoram seus níveis de desempenho e relações interpessoais.
Dunning comparou a anosognosia, falta de consciência ou negação da própria doença, devido a lesões cerebrais, à incapacidade do incompetente em reconhecer a própria incompetência. A ironia é que a competência real tende a enfraquecer a autoconfiança. É comum pessoas muito capacitadas, com conhecimentos sólidos sobre um assunto, subestimarem sua competência, apresentarem o sentimento de inferioridade ilusória ou síndrome do impostor. Esses indivíduos podem pensar que não são muito capacitados e subestimar as próprias habilidades, chegando a acreditar que outros, menos capazes, também são tão ou mais competentes do que eles.
Nos últimos tempos, houve uma crescente onda de fake news e falácias do tipo non causae ut causae (tratar como prova o que não é prova), utilizadas com o propósito de enganar, promover a desinformação, confundir o consumidor e proclamar falsas vitórias. A última eleição presidencial, nos Estados Unidos, mostra um claro exemplo de falácia non causae ut causae. Donald Trump, a despeito de todas as evidências, continua afirmando, sem jamais provar, ter havido fraude na eleição de Joe Biden.
O apego insano à posição de líder daquela nação e o comportamento infantilizado de Trump, remete ao complexo do pombo enxadrista - sem qualquer formalidade ou argumentos plausíveis - ele defeca no tabuleiro, derruba as peças e sai voando para seu bando, cantando vitória.
A tomada de consciência sobre a própria ignorância é o meio mais seguro para alcançar o conhecimento, desenvolver aptidões e utilizar o discernimento para reconhecer falácias, não se deixando manipular por apelos emocionais sem validade lógica e apegos ideológicos alienantes. É preciso estar vacinado contra todo tipo de peste biológica e cognitiva. Abuse do conhecimento! Use sem moderação. Até onde sabemos, nenhum jacaré perdeu a competição pela sobrevivência, para patos.
MARA LÚCIA MADUREIRA, Psicóloga cognitivo-comportamental em Rio Preto. Escreve quinzenalmente neste espaço às quintas-feiras