O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) surpreendeu até os próprios aliados nesta segunda-feira, 29, ao fazer uma minirreforma e trocar o comando de seis ministérios de uma só vez. Com exceção do chanceler Ernesto Araújo, que cozinhava em fogo alto, as demais trocas não estavam no radar de nenhum analista político.
As reações sobre a dança das cadeiras promovida por Bolsonaro foram as mais variadas. Para uns, representa um aceno à radicalização, especialmente com a demissão do general Fernando Azevedo e Silva, que ocupava o Ministério da Defesa. Ao ser demitido pelo presidente, Azevedo e Silva divulgou nota dizendo que preservou "as Forças Armadas como instituições de Estado".
Ainda que a manifestação do general possa dar a entender uma possível ingerência nas Forças Armadas, a verdade é que a costura feita por Bolsonaro teve como principal objetivo dar poder ao Centrão.
O presidente pode ter inúmeros defeitos, mas bobo ele não é. O Centrão é um agrupamento de partidos políticos dentro do Congresso que não possui uma orientação ideológica específica, mas que costuma orbitar em torno do Executivo com objetivos essencialmente fisiológicos. Bolsonaro, aliás, é fruto do Centrão - foi neste bloco que construiu sua carreira parlamentar por quase três décadas.
Foi o Centrão, por exemplo, que segurou Lula na presidência da República em 2005 e 2006, quando explodiu o escândalo do mensalão. E foi o mesmo Centrão que, em 2016, cassou Dilma Rousseff por conta das pedaladas fiscais. Com dezenas de pedidos de impeachment enviados à análise do Congresso, Bolsonaro resolveu agradar o bloco com o único objetivo de se blindar politicamente.
No rearranjo ministerial, a deputada Flávia Arruda (PL-DF), que é do Centrão e ligada ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), ficou com a Secretaria de Governo. O general Braga Netto, que possui ótima relação com os congressistas, foi para o Ministério da Defesa. E o chanceler Ernesto Araújo, aquele que encheu o peito para dizer que o Brasil deveria ser pária do mundo, foi defenestrado do governo após deputados e senadores pedirem sua cabeça publicamente.
O troca-troca ministerial revela um governo acuado. Na semana passada, o presidente da Câmara elevou o tom das críticas e afirmou que, se não houver correção de rumo, a crise pode resultar em "remédios políticos amargos" a serem usados pelo Congresso, "alguns fatais". Em vez de confrontar Lira publicamente, como é do seu feitio, Bolsonaro não só não rebateu o deputado como o agraciou com cargos na minirreforma.
Longe de radicalizar, o presidente, com a mexida de peças no seu ministério, tornou-se refém do Centrão.