O Butantan trouxe uma grata surpresa na semana passada ao anunciar a Butanvac, vacina que será produzida inteiramente no Brasil. O imunizante já teria passado pelas fases pré-clínicas de testes (em células de laboratório e em animais), com bons resultados, e agora o instituto aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar as aplicações em humanos.
A excelente notícia foi maculada, em parte, por uma descoberta revelada pelo jornal Folha de S.Paulo no mesmo dia em que a vacina foi anunciada. Diferentemente do que alardeou o governador João Doria (PSDB), a Butanvac não foi desenvolvida 100% em território nacional. Na verdade, ela foi gestada por pesquisadores do Hospital Mount Sinai, de Nova York, e será, sim, produzida em solo brasileiro. O próprio Doria disse, nesta segunda, 29, que não tinha a informação, quando fez o anúncio, de que a Butanvac contava com tecnologia estrangeira.
O que muda na prática? Absolutamente nada. Pouco importa onde se deu o início do desenvolvimento. Não interessa se é 100% nacional, o necessário é que as vacinas sejam aplicadas em 100% da população brasileira. O que causa estranheza é um instituto tão sério quanto o Butantan, com mais de 120 anos de serviços essenciais prestados ao País, ser usado como trunfo político.
Ciência e politicagem nunca foram boas amigas - aliás, a politicagem sempre é uma má companhia. O que fica claro é que este é mais um capítulo na queda de braço entre o governador Doria e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Uma corrida lamentável sobre quem será o primeiro a anunciar o desenvolvimento e a produção de uma vacina 100% brasileira.
Pacientes intubados, famílias destroçadas pela Covid e um País inteiro não ligam para essa disputa, que interessa apenas a quem se ocupa da politicagem e seus asseclas.
O Butantan tem uma importância imensurável na vida dos brasileiros. Não só agora com a Coronavac, mas por todas as vacinas e pesquisas desenvolvidas ao longo da sua história, que ajudaram a salvar milhões de brasileiros.
Que o instituto continue assim, com a ciência e a pesquisa acima de quaisquer interesses ideológicos. Preocupa ver o nome do Butantan envolvido em uma briguinha de egos entre governador e presidente, enquanto mais de 300 mil brasileiros perderam a vida. O Butantan não é de Doria nem do seu diretor, Dimas Covas. É do Brasil.