Entre os vários males causados pela pandemia, um dos que mais assombram, no campo das ideias, é a falsa dicotomia entre salvar vidas e salvar a economia. Como se optar por um seria anular o outro. Sofismo barato.
Economistas e entidades ouvidos pelo Diário, em reportagem deste domingo, são unânimes ao alertar que o fim do auxílio emergencial coloca ainda mais em risco a economia do país. Com a última parcela paga em janeiro, e sem previsão de um novo benefício para os trabalhadores informais, existe o sério risco de o Brasil entrar em recessão técnica, que é quando o Produto Interno Bruto (PIB) fica negativo por dois semestres consecutivos.
Vidas e economia não são valores antagônicos, justamente o contrário. São suplementares e, em uma sociedade sadia, precisam andar de mãos juntas. Usar máscaras, o álcool gel e adotar o isolamento social responsável não só reduzem o risco de contágio do coronavírus: fazendo isso, protege-se a vida e permite que a economia seja retomada de maneira mais célere.
Mas os governos também precisam fazer sua parte. É óbvio que, sem qualquer auxílio, a população mais carente vai sofrer. Havia a expectativa de que, com o início da vacinação, o começo de 2021 traria o arrefecimento da pandemia e a retomada pouco a pouco da normalidade. Não foi o que ocorreu: a segunda onda de Covid, as aglomerações, as novas variantes da doença e a falta de doses transformaram os primeiros meses de 2021 em uma espécie de 2020 na sua versão 2.0.
Está na hora de o governo federal analisar urgentemente a recriação de um novo auxílio. A adoção do assistencialismo por si só nunca é uma boa opção, mas em tempos extremos é essencial que o poder público estenda a mão a quem mal tem o que comer. A carga tributária em cima do brasileiro é uma das mais altas do mundo. Todo esse dinheiro pago por cidadãos e empresas precisa ser revertido ao bem-estar da população. A melhoria dos indicadores econômicos será uma consequência disso.
Quanto ao governo estadual, a inflexibilidade do Plano São Paulo é algo inexplicável. As medidas adotadas pelo governo do Estado são, sim, importantes para tentar evitar a escalada da Covid. Mas algumas medidas como o fechamento irrestrito dos bares, que continuam proibidos de abrir na fase laranja, não fazem sentido. Estrangula o setor de maneira irremediável e, ainda por cima, alimenta as festas clandestinas - essas sim propagadoras do coronavírus.
Quem insistir neste discurso de que é preciso fazer uma escolha entre a economia e a vida dos milhões de brasileiros é porque não entende nada do primeiro e despreza profundamente o segundo.