A vacinação contra a Covid em Rio Preto segue a velha retórica do copo meio cheio ou meio vazio. Ou, adaptando a expressão, da seringa cheia ou sem dose alguma.
Primeiro, a vazia. Reportagem do Diário desta quinta, 18, revela que, no atual ritmo de imunização, a Secretaria Municipal de Saúde só vai conseguir vacinar toda a população rio-pretense em maio de 2023.
Desde que a imunização teve início, em 19 de janeiro, a média de doses aplicadas diariamente é de 1.080. Como são necessárias duas aplicações, o número de vacinas para que os 464 mil rio-pretenses sejam imunizados é de 929 mil.
Também preocupa o fato de o município ter apenas mais 6,5 mil doses da Coronavac disponíveis para trabalhadores da saúde e idosos. Ou seja, teoricamente mais seis dias de vacinação até que a campanha seja interrompida em Rio Preto, a exemplo do que ocorreu em várias cidades do País e, inclusive, em Bady Bassitt aqui na região.
A boa notícia - a "seringa cheia" - é que, de acordo com a Secretaria de Saúde, Rio Preto hoje tem uma rede com potencial para imunizar 15 mil pessoas por dia. Este índice inclusive já foi atingido em campanhas de vacinação anteriores. Um dado que, é importante frisar, revela a excelência da rede municipal de saúde.
Mas de nada adianta toda essa capacidade se as vacinas não chegarem. E é esse o grande imbróglio no momento, com incertezas e falta de planejamento que estão custando caro ao País.
Municípios se equilibram na corda bamba diante da falta de garantias sobre o envio das doses necessárias para a população. Sequer os grupos prioritários têm essa certeza.
O negacionismo, a falta de uma ação nacional coordenada e a politicagem criados em torno do coronavírus estão custando caro ao País. A questão não deve ser medida em doses, mas em vidas. Vidas perdidas que poderiam ter sido salvas caso houvesse um comprometimento maior do poder público com a vacinação desde o início.
É um ciclo: sem a imunização de boa parcela da população, a roda da economia não voltará a girar e, muito mais importante que isso, vidas continuarão a ser ceifadas. É consenso que só a vacinação poderá fazer com que o País volte a uma relativa normalidade. E impedir que pais, filhos, maridos, mulheres, irmãos e amigos continuem a sofrer com a perda de entes queridos.
Não há mais como aceitar uma seringa meio vazia: ela precisa estar cheia para que possamos respirar novamente.