O ano mudou, mas a pandemia não acabou. Mais do que uma realidade temporal, é uma triste constatação do ponto de vista sanitário. Atrasado como está na compra de imunizantes, seringas e agulhas, o Brasil assiste a um veloz aumento no número de casos e de internações hospitalares. O Centro de Contingência do Coronavírus de São Paulo alerta para um pico de casos novos de Covid-19 nos próximos 14 dias, resultado direto das festas e aglomerações verificadas no fim de ano, especialmente nas praias do litoral paulista. O Estado de São Paulo tem hoje, na média, 62% dos leitos hospitalares destinadas aos pacientes de Covid ocupados e lidera o trágico ranking de mortes no País, com 46,9 mil. Mesmo com o índice de isolamento em torno de 49% no Estado, o que é considerado bom pelos médicos, o risco de aumento na contaminação existe porque, ainda que apenas uma minoria tenha viajado, este grupo tem potencial para disseminar o coronavírus nas localidades onde vivem.
Em dezembro, a taxa de transmissão do novo coronavírus no Brasil estava em 1,13, segundo acompanhamento do Imperial College de Londres. Isto significa que cada grupo de cem pessoas
contaminadas transmitem o vírus para outras 113. Segundo os epidemiologistas, qualquer número acima de 1 indica que a pandemia está acelerando. As chances de esses números corresponderem à realidade é de 95%.
No Reino Unido, onde foi descoberta uma nova cepa do coronavírus e um novo recorde de casos de Covid, o governo decidiu decretar novo confinamento nacional, incluindo o fechamento de escolas. Tal medida deve vigorar pelo menos até março. Segundo as autoridades britânicas, a alta de casos confirmados nas últimas semanas tem a ver com a nova variante do vírus, também já registrada na Alemanha e França.
No Brasil, o que chama a atenção é a insistente inércia do Ministério da Saúde em colocar em prática o próprio Plano Nacional de Imunização. O País, além de não ter vacina, não consegue comprar um número suficiente de agulhas e seringas para a imunização em massa tão aguardada pela maioria da população. Em leilão promovido pelo governo federal, o Ministério da Saúde só conseguiu oferta para adquirir 7,9 milhões das 331 milhões de unidades que a pasta tem a intenção de comprar para a campanha de vacinação.
O momento é de alerta máximo. Enquanto a vacina não vem - e, pelo jeito, não virá logo - todos têm que fazer sua parte na prevenção à Covid. A ameaça é real, e continua.