Não é preciso ser analista ou antropólogo para perceber o quanto nos tornamos imediatistas nos tempos atuais, processo esse que evidentemente vem se desenvolvendo e aumentando ao longo dos anos, ao passo em que as mais diversas formas de consumo adotam a cada dia que passa em maior escala o modelo "fast food" (comida rápida) com a pretensão de atender nossas necessidades e desejos de forma cada vez mais veloz. Condicionando e instalando assim o comportamento em massa de exigir que tudo aconteça "pra ontem", tornando qualquer tipo de espera insuportável e até mesmo inadmissível. Tantas foram as vezes que presenciei em situações comuns do dia a dia como filas para passar as compras em supermercados, espera para ser atendido por um gerente de banco, o tempo em que um prato leva para ser preparado e trazido até a mesa de um restaurante a quem está sentado ali... entre outras, pessoas sendo hostis e até mesmo ofensivas com colaboradores e estabelecimentos pelo simples fato de terem de esperar, na maioria das vezes apenas alguns minutos. É certo que existem excessos na outra ponta; empresas e comércios que nem sempre conseguem atender suas demandas, número inferior de equipe ao necessário e esperas de horas e horas em casos específicos, porém muitas vezes a angustia da espera por menor que seja é notória.
Do ponto de vista da psicologia em geral, o problema da "festfoodização" da vida é que, aos poucos vamos introjetando tal comportamento e até mesmo uma visão de mundo imediatista que, sem nos darmos conta, vamos adotando esse modus operandi em todas as áreas da vida, nas relações familiares e pessoais, na carreira profissional, na melhora de um quadro patológico e o mais perigoso em meu ponto de vista nas questões existenciais e subjetivas de cada um que necessita de tempo, amadurecimento, constante e lenta construção para encontrar significados e consequentemente maior sintonia com a vida e com as próprias escolhas. E é justamente quando a arte de saber esperar não é aprendida e desenvolvida que nos tornamos mais vulneráveis emocionalmente para lidar com as frustrações, com as expectativas que não se realizam, com as fantasias que não se tornam realidade e sobretudo com os desejos que não são atendidos no aqui e agora.
Para o Sociólogo e Filósofo polonês Zygmunt Bauman a cultura do imediatismo era um inimigo da educação, pois o excesso de estímulos cada vez mais velozes dificultam a concentração e outras capacidades cognitivas, além de que o aprendizado é um processo que leva bastante tempo para acontecer.
Em fim sabemos o quanto a "comida rápida" de nosso dia a dia é sim satisfatória e importante para a dinâmica acelerada de nossas vidas, porém intervalos para preparar e degustar aquele prato típico que leva muitas horas ao fogo para ficar pronto há de ser uma experiência também prazerosa e uma importante lição de sobrevivência.
Rafael Mesquita Grolla, Psicólogo; Rio Preto