Novas ondas de contágio colocam novamente boa parte da população em estado de alerta e medo. Economia freia mais uma vez, especialmente para os setores de bares, restaurantes diretamente afetados pelas restrições impostas pelos governos que, a meu ver, parecem lidar com a situação pelo método de tentativa e erro, mas sempre trazendo no discurso e na justificativa que estão tomando as decisões em "nome da vida e embasado pela ciência".
A economia não quebrou de todo, como havia alarmes mais radicais no início da pandemia, mas mesmo que numa análise macro temos sobrevivido, na escala doméstica os problemas parecem aumentar. Segundo o Banco Central, o endividamento das famílias brasileiras bateu novo recorde durante a pandemia e agora, a dívida bancária atingiu 51% da renda acumulada das famílias; 25,5% das famílias têm contas ou dívidas em atraso, e pasmem, 66,5% (praticamente 7 em cada 10) de todas as famílias estão endividadas.
É um número preocupante e espelha, de certa forma, a realidade do País como um todo, já que os governos também estão endividados, ineficientes e em geral incapazes de mudar o status quo por uma série de fatores que não é o objetivo desse artigo tratar.
Me preocupam ainda mais que a pandemia e a economia, a crise de valores, o desequilíbrio de saúde mental com taxas de depressão, ansiedade, burnout e até suicídio crescendo como nunca. Me preocupa a cidadania sendo deixada em segundo plano e nós cidadãos quase que assistindo como espectadores atônitos de um reality show da vida real tudo que acontece - e nos sentindo impotentes ou incapazes de agir, de contribuir.
Me preocupam a queda da esperança e da confiança. Valores fundamentais não apenas para rodar a economia de maneira mais saudável e sustentável, mas para que a sociedade como um coletivo esteja também emocional e mentalmente saudável.
Há luz no fim do túnel. Ao mesmo tempo que temos notícias e números ruins como os que trouxe acima, também foi publicada uma pesquisa feita pela consultoria KPMG mostrando que o brasileiro é um dos povos onde mais o consumidor se preocupa na hora da compra com aspectos socioambientais e de governança das empresas, o movimento conhecido como ESG (Environmental, Social and Governance). Isso me mostra e me dá esperança de que temos ficado mais conscientes como consumidores e cidadãos e a economia não mais tão fria, pois estamos entendendo cada vez mais a inter-relação entre economia, social, ambiental, consumo consciente e o impacto na saúde individual, coletiva e do planeta.
E esse é o caminho que entendo único possível de trilhar no momento, seja se você está passando um momento bom ou ruim em sua vida pessoal, de saúde física-mental-emocional ou econômica. O caminho é usar o momento para reflexão e aprendizado. Para interiorizar e buscar práticas e valores que possam melhorar sua vida pessoal, profissional e como cidadão consciente.
No fim, após pandemia e todos os desafios, o que vai contar é como lidamos e reagimos no nível individual e coletivo. Que lições tiramos e que práticas mudamos. Isso é o que vai determinar a evolução não apenas de nossa economia, mas de nossa sociedade, de nosso povo.
Luiz Fernando Lucas, Diretor do Ciesp, conselheiro empresarial, escritor