Tive uma convivência intrínseca e instigante com pelo menos três hélios. O primeiro deles é o gás (He), aquele da tabela periódica. Como ser mais afeito as áreas humanas, meu aprendizado com exatas sempre foi a "fórceps".
O desejo do meu falecido pai era que fizesse medicina, no princípio da década de 80, prestei 3 vestibulares para esse curso, todos públicos (naquela época não tinha FIES) e paulistas. Em dois deles fui mal, mas em pelo menos um fui até que bem, fiquei na lista da segunda chamada.
Tenho comigo que não sou médico, pois errei uma pergunta sobre o famigerado gás. Hoje sei que é um gás incolor, inodoro, atóxico, de baixa densidade e inerte à combustão e de pouca evaporação. É encontrado na natureza (erupção vulcânica) e tem aplicação em diversos setores, principalmente, misturado ao oxigênio para tratamento respiratório. Mas tem utilidade significativa na indústria tecnológica (espacial, computação e ressonância magnética).
Dizem que quando inspirado torna a voz humana fina, acho que minha mãe colocou na minha inalação diária.(brincadeira!)
O segundo Hélio foi o Alves. Homem de qualidades raras. Um funileiro exemplar, que tinha seu estabelecimento na Rubião quase na Bady, acho que hoje está ali a empresa Anzol de Ouro.
O homem Hélio Alves era uma pessoa de fala polida e escrita rebuscada. Sob sua liderança, me cerrei fileiras ao seu lado na agremiação partidária. As reuniões aconteciam no seu espaço de trabalho, pós expediente. Retirava-se alguns carros e os bancos de madeiras eram colocados lateralmente, as vezes fazendo um quadrado. Nem a dureza do banco, agilizava as reuniões.
O terceiro era sem o H, simplesmente Élio Calhado. O Calhado foi jogador de futebol profissional, honrou a camisa do diabo. Mas o conheci como letrista, pintor de faixa. Naquela época tudo era "fatto a mano" em pano, hoje as faixas são plásticas e as letras são desenhadas a "laser".
No atelier do Calhado (na Presciliano) rolava assunto do cotidiano da cidade, mas principalmente de esporte, cultura e política. Aliás, ele era um protetor dos artistas, "o profeta das cores" no começo das suas atividades na cidade, foi acolhido pelo Calhado, dava-lhe abrigo e tintas para embelezar as paredes rio-pretenses. Enfim, era outro ponto de acolhimento, de debate e as vezes, simplesmente, para admirar a rapidez, firmeza e velocidade que o Calhado desenhava suas faixas e cartazes.
As duas pessoas já não estão mais presentes entre nós, restam apenas lembranças daqueles que conviveram com eles. Certamente, haverá mais pessoa que possa ter recordação dos mesmos ao ler esse artigo, quiçá, com histórias bem melhores que as minhas.
Lógico que existem muitos hélios por aí, alguns tive prazer de conviver, mas, por hora, me dediquei apenas a estes. Então, restou-me apenas o gás, certamente nunca mais errarei uma questão sobre o assunto, até porque já passei da idade vestibular. Agora quero mais que o He permita-me inflar balões alegres e não me asfixie das lembranças de outrora.
Ailton Bertoni, Advogado