Nossa classe média tem tendência à militância digital. Em uma época em que as manifestações presenciais estão em baixa, seja pelo desgaste natural ou pela pandemia, sobrou a internet como fórum de debates. Porém, livre e desregulada, há também exageros visíveis e carradas de inverdades.
Às vezes, somente com amigos, provocamos nas redes sociais: "legal, protestou e xingou por aqui, mas domingo estará fazendo churrasco com amigos". Embora jocoso, não deixa de ter seu lado realista. Muitos são corajosos e destemidos em suas postagens, mas correm à menor ameaça de retaliação. E não saem de casa por nada!
Como não há processo (dá muito trabalho e não vira nada), as pessoas vão ficando cada vez mais atrevidas. Gente que não te conhece, amigo do amigo, julga-se no direito de ofendê-lo ou destratá-lo. Esquecem-se que a educação também cabe nas redes sociais. Normalmente, procuramos ser educados e respeitosos, mas não estamos livres de algumas escorregadas.
Não é só o cidadão comum. As ofensas chulas ou impróprias, atingem também autoridades e instituições. Não que não devam ser criticadas, isso faz parte da
Democracia, mas há um mínimo de decoro, pudor ou pejo. Em assuntos de esportes, por exemplo, parece que a prática hiperbólica ultrapassa todos os limites do bom senso. Há quem realmente ofenda o amigo só por torcer para um time diferente do dele. Pode?
A internet, desregrada como está, oferece proteção ilimitada contra essas exagerações. Ninguém é capaz de se conter, reproduzindo aquilo que pensa, independente de ser verdadeiro ou não. Notamos pessoas letradas, com cursos superiores, divulgando notícias ou situações facilmente identificáveis como falsas. Por que o fazem se é antiético?
Quando há dúvida, a única saída para certificar-se sobre a nota postada é consultar os sites especializados em verificações de conteúdos. Nem tudo está lá, mas o velho e bom "desconfiômetro" também ajuda. Poucos dos avisados retiram suas postagens. Há gente que não retira e ainda é capaz de insultar, sobretudo em temas de natureza política.
As grandes vítimas são a própria sociedade e as frágeis democracias, cujas eleições estão repletas de distorções. Há até empresas e grupos especializados em distribuir notícias e houve denúncias de utilizações de CPFs falsos e cadastros comprados ilegalmente, cujos dados, de acordo com notícias alarmantes, estão sendo vendidos. Aos milhões, o que significa que toda a população está vulnerável.
Como as punições estranhamente não vigoram, os dados são distribuídos/vendidos antes. Parece que foram as nossas próprias autoridades que acordaram para postergar as punições, o que, infelizmente, dá o que pensar. Segurem-se contra os abusos nas próximas eleições. As notícias falsas (fake news) correrão soltas.
Não há nenhuma garantia que iremos melhorar essa situação no curto prazo. Só educação e cultura serão capazes de nos salvar, mas isso demora gerações para amadurecer. Precisaremos da ajuda dos céus!
Laerte Teixeira da Costa, Vice-presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores) e ex-vereador de São José do Rio Preto