Na idade média e até bem antes, nada se sabia sobre o sangue, sua circulação, composição e funções. Até o período do Renascimento, era proibido se auscultar o corpo humano, muito menos fazer qualquer tipo de dissecação. Leonardo da Vinci praticou processos de pesquisa do corpo humano, abrindo e estudando suas partes, em especial no campo da musculatura, o que lhe serviu muito para executar as obras de arte que nos deixou como legado. Sua condição financeira ajudou muito e o ' escondeu' dos inquisitores e da própria Igreja.
Por mais de 1.000 anos, ainda no século II até o século XIII, as teorias de um filósofo de nome Claudio Galeno, nascido em 129, em Pérgamo, Grécia e morto em 217, na Cecilia ou Pérgamo, vigeram como verdades absolutas sobre o corpo humano, em especial seu funcionamento e composição do sangue e do ar circulante em seu interior. Ambos eram considerados como elementos da 'alma', e como seus estudos não ofendiam a fé vigente, a Igreja não o atormentava por ser um cientista. Galeno (o pai da medicina) foi o primeiro médico da antiguidade capaz de curar e tratar de doenças que atingiam o ser humano e alguns animais. Seus estudos já previam as diferenças entre veias e artérias e o sangue venoso do sangue arterial. Foi o primeiro a afirmar que o cérebro era o controlador de todas as atividades do corpo, chegando a conhecer as atividades dos rins e origens da urina.
Só em 1628 William Harvey (1578-1647) publicou pesquisas afirmando que o coração era uma bomba que movimentava o sangue e não ar como se pensava. Comprovou que o sangue, partindo do ventrículo direito do coração, seguia para os pulmões através da artéria pulmonar e retornava para o coração através das veias pulmonares não chegando ao conhecimento do sangue venoso, carregado de gás carbônico, e do arterial, carregado de oxigênio. Só através de Michael Servetus, nascido em Tutela, na Espanha, em 1511, foi descoberta a pequena circulação e por esta descoberta ele foi queimado vivo em Genebra no dia 27 de outubro de 1553, por ter sido acusado de dissecação de cadáveres, o que a Igreja não admitia e ele não tinha com trânsito com ela. Sua descoberta foi estudada em medicina por cerca de 400 anos.
Só em 1924, o médico egípcio M. Altawi, pesquisando manuscritos do médico árabe Abu-Alhassan Alauldin Ali Bin, levantou tese de que o sangue fluía desde o ventrículo direito através da artéria pulmonar indo para os pulmões, onde se misturaria com o ar, e retornaria pela veia pulmonar à câmara esquerda do coração. Estava sendo desvendado o grande mistério da pequena e da grande circulação, fato que explicaria, mais tarde, todo o complexo da circulação dos gases e dos nutrientes por todo o organismo humano. A teoria de Galeno que persistiu por vários séculos agora estava indo para o livro das hipóteses, não se podendo deixar de lado o grande trabalho de Michael Servetus o mérito de ter sido o primeiro a descrever, no Ocidente o caminho do sangue através dos pulmões. Os relatos de Galeno se sustentavam com o uso de dissecações de animais, em especial macacos, também considerado o precursor das pesquisas no campo da vivissecção.
Antonio Caprio, Prof. Dr; biólogo