Título dado à primeira pesquisa nacional promovida pela Associação Médica Brasileira (AMB) mostra o que 3.882 médicos de todas as regiões do Brasil pensam da pandemia que avassala a saúde do Brasil e do mundo.
Pesquisa de altíssima qualidade traz dados que vão de acordo com o que vivemos hoje. Haverá piora dos casos e óbitos com a segunda onda? Como avaliar a ação das nossas autoridades? Quais medicamentos devemos usar? A assistência em saúde mudará após a pandemia? Estas e tantas outras perguntas contribuem para que possamos entender como os médicos pensam e agem durante a pandemia no Brasil. A maior de todas as questões não está na pesquisa em si, mas sim no que ela nos permite pensar. Quais conclusões podemos tirar?
Os médicos que atendem em locais que recebem pacientes Covid-19 positivo relatam tendência de alta em 91,5% dos casos e 69,1% dos óbitos. Oito em cada 10 acreditam que a "segunda onda" será mais grave. Somada à interminável guerra política que vivemos, estes números mostram que os médicos não acreditam que a população seguirá as medidas de prevenção exigidas pela vigilância sanitária. 50,5% acreditam que nenhuma destas medidas tem adesão suficiente da população. Pior, nem mesmo o início da vacinação acalma o sentimento futuro de desespero.
Após um ano do início da pandemia, a falta de médicos, enfermeiros e/ou outros profissionais da Saúde e a falta de diretrizes, orientações ou programa para atendimento são as principais deficiências encontradas na atenção à pandemia. A dificuldade na contratação de mão de obra especializada e a incapacidade da maioria das autoridades de estabelecer protocolos a serem cumpridos notadamente influenciam o dia a dia dos médicos.
Os mais assustadores números da pesquisa estão vinculados ao tratamento da Covid-19. Entre eficaz na prevenção, nas manifestações iniciais, na doença já está instalada e no caso de piora, 34,7% e 41,4% acreditam que a cloroquina e a ivermectina, respectivamente, devam ser utilizadas. Mesmo as maiores entidades científicas, nacionais e internacionais, comprovando a ineficácia e os riscos destas drogas na prevenção e tratamento da Covid-19, mais de 1/3 dos médicos continua a prescrever.
Por fim, mesmo com todo o sofrimento e desgaste que a população e os médicos vêm passando, o reconhecimento dos gestores e governos aos médicos e as resoluções de pendências históricas do nosso sistema de Saúde deveriam ocorrer para evitar um novo colapso na saúde. Infelizmente, não é o que a pesquisa mostra. Dos entrevistados, 77,5% acreditam que não haverá qualquer tipo de reconhecimento em valores e remuneração e 73% não acreditam na resolução das fragilidades do nosso sistema de Saúde.
Como entidade de classe, a Associação Paulista de Medicina (APM) tem o compromisso de defender nossa profissão e zelar pelo bem estar dos pacientes. Continuaremos atuando pela medicina cada mais ética, valorizada e humana, mesmo que tenhamos que quebrar barreiras e paradigmas diários.
Leandro Colturato, Médico ginecologista e presidente da Associação Paulista de Medicina (APM) - Regional de Rio Preto