Replanejar, repensar, reavaliar, recomeçar, são bons exemplo de atividades e de ações que foram incorporadas ao dia a dia das empresas e às rotinas gerenciais de empreendedores e gestores, em 2020. Infelizmente, o ano passado foi muito cruel para os negócios que sentiram maior dificuldade em lidar com o novo ambiente econômico imposto pela pandemia, bem como, para aqueles que não tiveram o suporte adequado para iniciar um processo rápido de reestruturação. Muitos deles viram-se obrigados a demitir colaboradores, desativar unidades de negócios e, nos casos mais extremos, encerrar as atividades em definitivo.
Começar a reverter este cenário, em 2021, será o grande desafio para o país, cuja sina, desde a independência, é a de viver a permanente busca pela recuperação econômica. Recuperar a economia não é, portanto, uma tarefa desconhecida por aqui. Assim sendo, a primeira tentativa de se recuperar a economia deveria ser a de começar pelo óbvio: fomentar o desenvolvimento local e fortalecer as pequenas empresas.
Em 2004, os professores Dante Pinheiro Martinelli (FEA-USP) e André Joyal (Universidade de Quebec) publicaram o livro "Desenvolvimento Local e o Papel das Pequenas e Médias Empresas". Logo na introdução, os autores falam da importância da criação de empregos para o desenvolvimento local. No entanto, advertem: "mas se se deseja criar empregos, é preciso criar empresas. E cabe aos atores do desenvolvimento local estimular o seu surgimento". Os "atores" (poder público local, entidades empresariais, universidades, agências de fomento etc.), citados pelos professores, sabem que, para se criar empresas, não basta, apenas, ter indivíduos com o tão falado "espírito empreendedor". É preciso oferecer a eles os recursos (infraestrutura, capital, conhecimento, entre outros) que irão transformar as boas intenções em boas ideias, para, depois, transforma-las em negócios consolidados capazes de gerar empregos, renda, desenvolvimento social e, por fim, o tão sonhado desenvolvimento local. Feito isso, a recuperação econômica deixa de ser um desejo para se tornar uma certeza.
A boa notícia é que indivíduos empreendedores não faltam, no Brasil. De acordo com dados disponíveis no Portal do Empreendedor, em 2020, e apesar de todas as dificuldades, foram abertas 1.886.415 novas empresas. Comparando-se com 2019, houve um crescimento de 20% no número de MEIs (microempreendedores individuais), totalizando 11.316.853 o número de empresas optantes do SIMEI (sistema de recolhimento de tributos devidos para microempreendedores individuais). São, sem dúvida, números expressivos, quando analisados dentro de um contexto econômico tão atípico, como foi o de 2020.
Nunca é demais lembrar a importância dos pequenos negócios e de quão necessário é o país construir políticas públicas sólidas para estes negócios. De acordo com a última edição do estudo "Panorama dos Pequenos Negócios", elaborado pelo Sebrae-SP, os pequenos negócios representam 98% do total de empresas sediadas no Estado. São responsáveis, também, por 50% dos empregos, 39% da folha de salários e por 27% do PIB paulista. São, na verdade, pequenos grandes negócios. Então, vida longa a eles!
Ademar Pereira dos Reis Filho, Diretor da Fatec de São José do Rio Preto