Sun Tzu foi um renomado general chinês, que utilizava a filosofia como principal fundamento para as estratégias e táticas militares. Contudo, na visão do ilustre general, nem sempre a guerra determinava derramamento de sangue como chancela da vitória. Nem sempre o enfrentamento direto do inimigo era a melhor estratégia para garantir a vitória.
O ano de 2020 entrará para história da humanidade como um ano de guerra. Uma guerra entre o homem e o germe, uma guerra entre o homem e o intangível microbiano. O ano de 2021 não será um ano totalmente novo, renovado; ao contrário, parte de 2021 será o reflexo de 2020 que jamais findará na mente de todos nós que vivemos profundas mazelas, mortes, crises e novos modelos de conduta. O ano de 2021 não irá começar, tampouco 2020 terminar . Os anos de 2020 e 2021 serão eternamente um único corpo , num único tempo. Não há vantagens no enfrentamento direto deste inimigo microbiano, o qual tem forças para se manter soberano, execrando pessoas e ceifando vidas. Sun Tzu profetizava que " a suprema arte da guerra consiste em vencer o inimigo sem ter que enfrentá-lo ".
O ano de 2021 somente poderá ser suficientemente profícuo se o mesmo se desvencilhar de suas sombras encrustadas no ano de 2020. Este amálgama que prende 2021 a 2020 somente será quebrantando pela inteligência emocional de não enfrentar o inimigo frontalmente . Precisamos repensar nossa tática nesta guerra. Querer enfrentar a pandemia avançando frontalmente contra o inimigo invisível, subestimando a força do inimigo, negligenciando nossas limitações, culminará com a continuidade da guerra de 2020, e não com um renovar de esperanças para um 2021 efetivamente melhor. Nossas armas para 2021 não serão somente cobrir os rostos, mas também alavancar a ciência, as pesquisas, o desenvolvimento e a fé. Precisamos de vacinas para desenvolver imunidade e precisamos de mais inteligência emocional para melhor sedimentar os desafios que ainda serão enfrentados. A chegada de uma vacina será apenas um grão de areia nesta guerra que avança as fronteiras de 2020 e já expõe seu lastro para 2021. Enfrentar frontalmente este inimigo microbiano usando apenas o poderio de uma vacina poderá ser um grave erro estratégico. Para inexoravelmente vencermos esta guerra e tornar o ano de 2021 mais do que mera sombra do catastrófico 2020, precisaremos rever hábitos de vida, comportamentos, modelos de conduta, aliar ciência e fé e reinventar propósitos.
Edmo Atique Gabriel, Cirurgião cardiovascular