A inflação está sob controle, mas não deixa de ser motivo de preocupação dadas as pressões que sofreu ao longo do ano passado. Os preços dos alimentos, que pressionado pelo dólar e pelo aumento do consumo ocorrido em função da pandemia e pela maior demanda no mercado interno e externo, deverão dar uma trégua em 2021, certamente a partir do segundo trimestre.
A safra de grãos pode bater novo recorde e a diminuição com gastos com alimentos pode ser significativa. Os alimentos responderam por dois terços da inflação de 2020, acumulada em 12 meses até novembro de 4.3%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPC- A).
Por outro lado, a pressão sob a inflação poderá vir de outros dois grupos que em 2020 se comportaram bem por causa da pandemia, os serviços e os preços administrados. Com a pandemia, a procura por serviços caiu muito e segurou os aumentos. Já os preços administrados, tais como tarifa de transporte, combustíveis, plano de saúde, medicamentos ficaram estabilizados boa parte do ano.
A exceção foi a energia elétrica que voltou com força no final do ano. Há uma expectativa grande de que o IPC-A feche o ano de 2020 um pouco acima de 4% e termine o ano de 2021 entre 3.0% e 3.5%. O pico da inflação acumulada em 12 meses ocorrerá em maio de 2021, e deverá ser de 5.25%, a partir daí esperamos que comece a cair.
Um foco importante de pressão sob a inflação virá da defasagem dos preços dos combustíveis, que hoje estão em média 10% abaixo das cotações no mercado internacional. Vai ser difícil segurar preços da gasolina e diesel que estão artificialmente rebaixados pela Petrobrás. A tendência é que com a volta do crescimento da economia mundial, os preços administrados subam mais que o dobro do que subiu no ano passado, ou seja, 4.8%.
Estima-se que os preços administrados responderá por quase a metade da inflação de 2021. A médio prazo, o maior risco para a inflação é a questão fiscal. Se não ocorrerem os ajustes necessários, o câmbio deverá continuar pressionando e isso reflete nos preços em reais e inflação. Os impactos da alta média dos preços sobre os orçamentos das famílias de baixa e alta renda são muitos diferentes e significativos.
O aumento dos preços de vários itens do "grupo alimentação" subiram de forma expressiva. O arroz subiu 69.5% de janeiro a novembro; o feijão, 40.8%; as carnes, 13.9%; o leite, 25%; o óleo de soja, 94.1%. A população de menor renda consome muito mais esses itens e muito menos com passagens aéreas, lazer etc.
Portanto, o seu orçamento é muito mais afetado do que o orçamento das classes mais abastadas. Com base nesses dados, a inflação medida pelo Instituto de Economia Aplicada (IPEA) mostra que a inflação dos 11 primeiros meses de 2020 chegou a 4.56% para as famílias mais pobres; para a renda alta ficou em 1.68%. Por isso que podemos afirmar que inflação alta é mais um imposto a ser pago pelas famílias de baixa renda. Podemos dizer que quando ela está sob controle há uma distribuição de renda.
A pesquisa do IPEA considera que o grupo alimentação e bebidas responde por 28% dos gastos das famílias de renda muito baixa. Nas famílias de alta renda, o peso desse item cai para 13% do orçamento doméstico. Portanto, é preciso estar atento, pois variáveis importantes, como poder aquisitivo, consumo, taxas de juros, poupança, investimentos etc, dependem da estabilidade dos preços.