Contrariando as expectativas de Ano Novo e os votos de prosperidade profissional, o ano 2020 foi marcado pelas sequelas da pandemia do Coronavírus. A globalização, o fortalecimento comercial e industrial, o crescimento econômico e a intensidade das relações interpessoais foram substituídos pelo fechamento das fronteiras intercontinentais, pelo desemprego, pelo encerramento das atividades de estabelecimentos comerciais tradicionais e pela restrição domiciliar.
Apesar dos inúmeros esforços direcionados ao controle da pandemia, ainda convivemos com o aumento do número de casos confirmados, com o temor da superlotação hospitalar e com a possível escassez de leitos em unidades de terapia intensiva, especialmente neste período de festividade, em que culturalmente reunimos familiares e amigos para celebrar o início do próximo ano, o que pode contribuir para a transmissibilidade viral.
Mesmo com este panorama ainda preocupante, devemos manter a fé e a esperança pelo controle da pandemia. A grande expectativa para o ano de 2021 e o presente que todos aguardamos será o início da campanha de vacinação em massa. Assim como já fizeram alguns países da Europa, como a Inglaterra, e diversos países vizinhos da América do Norte e da América do Sul, o início do processo de vacinação simbolizará o possível xeque mate no processo inflamatório fatal causado pelo vírus quando em contato com a superfície endotelial do nosso organismo, em especial da nossa árvore respiratória.
Adequado planejamento estratégico e de logística, preparação do sistema de saúde público e privado, regulação com os órgãos comprobatórios de eficácia e conscientização populacional serão fundamentais para que o plano de vacinação seja efetivo. Assim como realizado por outros países, os profissionais da área da saúde, em especial aqueles que estão no fronte combatendo diariamente as consequências clínicas do Coronavírus, deverão ser os primeiros a receber os lotes da vacina. As pessoas que pertencem ao grupo de risco, como os diabéticos, hipertensos, cardiopatas e imunodeprimidos, também deverão ocupar uma posição privilegiada durante o processo vacinal. Entretanto, não podemos esquecer da população mais carente, que geralmente vive em aglomerações familiares e cujo acesso ao sistema de saúde muitas vezes é difícil.
Populações de trabalhadores, famílias de baixa renda e moradores da periferia e das favelas também merecem prioridade durante a campanha de vacinação. Assim como já observado em outras epidemias que nosso país superou durante sua História, estes grupos populacionais representam uma importante parcela das mortes evitáveis durante as crises sanitárias. Com o olhar no futuro, a resistência populacional em aceitar a vacinação pode lentificar o processo de eliminação do Coronavírus. Além disso, o maior compromisso da nossa geração não caracteriza-se apenas pelo início do plano de vacinação, mas sim em isentar as próximas gerações das sequelas desta pandemia em todos os âmbitos, seja ele social, econômico, cultural ou psicológico.
A cobertura vacinal completa representa o passo principal para alcançarmos este objetivo. A História, todavia, nos ensina que resultados satisfatórios são obtidos quando os esforços superam as expectativas. Exemplo disso foi o desprovimento demonstrado por Albert Sabin, médico e pesquisador polonês, ao renunciar os direitos de patente da vacina contra o vírus da Poliomielite, facilitando a administração da mesma às crianças em todo o mundo.
Dr. Sthefano Atique Gabriel, Cirurgião vascular