Após um ano atípico por conta da pandemia da Covid-19, o mercado imobiliário começa 2021 com otimismo. Segundo o economista-chefe do Sindicato das Empresas de Compra e Venda de Imóveis de São Paulo (Secovi-SP) e vice-presidente da área imobiliária da Câmara Brasileira de Indústria da Construção (Cbic), Celso Petrucci, 2021 certamente trará os resultados esperados pela categoria para 2020, caso não tivesse acontecido a pandemia do coronavírus.
A afirmação do profissional se baseia em índices animadores, como a inflação chegando ao fim de ano sob controle e a manutenção da taxa Selic. "Apesar da pandemia, os financiamentos imobiliários quebraram todos os recordes de contratação em 2020 e estão muito próximos dos números de 2014, que foi o melhor ano de financiamento imobiliário dos últimos tempos", disse Petrucci, que lembrou que no início da quarentena, em março, o setor previa um cenário pior.
Para ele, a reversão do cenário que fora esperado pode ser justificada por vários motivos, como a consideração do setor da construção civil pelos governos como atividade essencial, o que contribuiu para que as obras não parassem. Outro fator foi a rápida flexibilização de estandes de vendas, que já em maio se readequaram dentro das condições sanitárias para movimentar as negociações de compra e venda.
Outra razão apontada pelo economista foram as melhores taxas de financiamento, que para ele, próximas a 6%, possibilitaram uma situação inimaginável há um ou dois anos atrás. "Isso permitiu que o mercado imobiliário, principalmente empreendimentos prontos ou em construção tivessem a venda acelerada, porque as pessoas perceberam a queda na taxa de juros e a oportunidade de colocarem seu dinheiro em algo que possa ter valorização, o que não vem acontecendo em outros setores", explicou Petrucci, que disse que o mercado passou a ser um enorme atrativo para investimentos.
O profissional também ressaltou o grande desenvolvimento no que chamam de "web venda", principalmente pelas mídias sociais e plataformas online. "Embora a venda são seja 100% realizada na internet, a originação de compradores pela web foi maior, porque com as pessoas em casa, a prospecção de novos empreendimentos ou imóveis usados aconteceu bastante por este canal, que foi o que manteve 2020 como iniciou o ano", explicou.
A todo vapor
O corretor de imóveis rio-pretense Salvione, da Salvione Imóveis, disse que espera que 2021 mantenha a sequência de volume de negócios de 2020. Para ele, o destaque tem sido o setor de condomínios de alto padrão, tanto na venda de lotes como casas. "Hoje vemos a construção a todo vapor, querendo voltar à normalidade, vemos também alguns produtos que estavam em falta no mercado voltando ao normal e temos também um cenário de grandes construtoras da capital vindo para Rio Preto, com grandes investimentos no forno", disse o empresário, que avaliou não ter sentido a crise.
Segundo ele, 40 dias após o primeiro mês da pandemia o setor já começou a bombar com juros baixos. "Todo mundo partiu pra comprar, construir, reformar e a expectativa é que em 2021 continue assim: bombando", afirmou Salvione, que comparou o crescimento do setor à velocidade de um cruzeiro.
De acordo com o corretor de imóveis Thiago Ribeiro, da Locabens Imóveis, a expectativa para 2021 é de crescimento entre 5% a 10% para o setor, que segundo ele, tem crescido de forma sustentável. Ele analisa que o déficit do Brasil ainda é "imenso" se comparado principalmente com países europeus e América do Norte, como Estados Unidos e Canadá, o que faz manter a demanda por imóveis, principalmente o primeiro imóvel.
"Com os níveis de juros baixos as oportunidades aumentam, tanto para quem compra como quem constrói e investe", afirmou o empresário, que destacou como grande tendência para o ano novo a maior agilidade e eficiência no atendimento ao cliente por canais digitais. "Nosso mercado sempre foi bastante conservador no uso de tecnologias e com a Pandemia a velocidade de mudança de digitalização foi maior. É uma mudança que veio para ficar", disse.
Ribeiro lembrou que em 2019 o setor estava saindo da crise que o país enfrentava desde 2015 e por isso mesmo com a pandemia o mercado já estava preparado. Para ele, a maior procura atualmente é por imóveis que agreguem estrutura de lazer e que ofereçam um espaço mais distribuído e moderno. "Rio Preto está crescendo em todos os tipos de produtos, o público é bem abrangente, desde jovens casais que compram imóveis menores a investidores tradicionais no setor imobiliário, que têm os imóveis como um porto seguro, mas os empreendimentos de alto padrão estão em alta em virtude do crescimento da cidade".
No ano novo, o corretor quer aumentar o potencial de vendas e locação e implantar um departamento de lançamentos imobiliários para que possa capturar as boas perspectivas do setor em virtude de juros baixos, crescimento do PIB e crédito imobiliário.
Muita calma nessa hora!
Apesar do otimismo para 2021, o economista Celso Petrucci destacou algumas preocupações que devem ser levadas em conta para o crescimento do mercado imobiliário. Uma delas tem a ver com o funcionamento de lojas materiais de construção como atividade essencial, que segundo ele, fez crescer a venda de materiais como cimento, aço, pvc e outros insumos no varejo, resultando em um aumento acima do previsto e em um desequilíbrio neste aumento, que deverá perdurar até o final do 1º trimestre do ano novo.
"Não afetou muito a inflação, mas afeta os índices setoriais como o ICC e o CUB", explicou o profissional, que também elencou como preocupação a necessidade de o governo continuar as reformas, principalmente as administrativa e tributária e a manutenção do teto de gastos. "A continuidade disso possibilitará um ano em termos de inflação e Selic muito parecido com o que temos hoje, tanto é que o Banco Central já prevê um crescimento do PIB em torno de 3,5%", disse.