As demissões do ex-ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, e dos três comandantes das Forças Armadas criaram um clima de apreensão entre os políticos do chamado "Centrão" no Congresso. Na avaliação de congressistas é preciso manter a "vigilância" diante das mudanças abruptas e a saída dos militares pode ter ocorrido diante de pedidos "antirrepublicanos" de Bolsonaro.
Embora os comandantes das três forças já cogitassem entregar os cargos, eles não puderam falar sobre o assunto: Braga Netto abriu o encontro anunciando a demissão dos três. Segundo disse o novo ministro, as mudanças foram necessárias para garantir o "realinhamento" das Forças ao governo. É a primeira vez que o comando dos três ramos das Forças Armadas é trocado simultaneamente.
"Fica todo mundo receoso. É um movimento sem precedentes na história, o que faz com que todo mundo fique receoso. Ficamos receosos, existe vigilância, mas prefiro confiar na maturidade da nossa democracia e das Forças Armadas", disse o vice-presidente da Câmara, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).
Ramos disse ainda que Braga Netto deveria vir ao Congresso explicar as mudanças, para evitar qualquer mal entendido. "Se não há nada de extraordinário (na troca), acho que seria de bom tom, para passar uma mensagem de estabilidade e retirar esse receio que efetivamente existe", disse.
Fernando Azevedo e Silva foi demitido do cargo por Bolsonaro em uma reunião que durou apenas alguns minutos, na tarde desta segunda-feira, dia 29. "Preservei as Forças Armadas como instituições de Estado", escreveu ele ao deixar o governo. Na manhã desta terça-feira, dia 30, foi a vez de Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa Júnior (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) serem demitidos em uma reunião com o novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto.
Até a noite desta terça, 30, o presidente Bolsonaro não havia comentado as mudanças. Na segunda, 30, ele mudou seis ministérios.
A troca simultânea nos três comandos das Forças Armadas anunciada nesta terça-feira, 30, pelo Ministério da Defesa é inédita no País. O professor de relações internacionais da ESPM Gunther Rudzit disse que o episódio expõe uma crise entre governo e militares. "Nunca houve mudança nos três comandos simultâneas, com agravante ainda de ter havido a troca do ministro da Defesa", afirmou.
Celebra
Em dos primeiros atos como novo ministro da Defesa, o general Walter Braga Netto publicou nesta terça-feira, 30, "Ordem do Dia Alusiva ao 31 de março de 1964", em referência à data do golpe militar no País, que completa 57 anos nesta quarta-feira. No texto, disponível no portal da pasta, Braga Netto cita que os eventos daquele dia, "assim como todo acontecimento histórico, só podem ser compreendidos a partir do contexto da época" e sustenta que o "movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil". "Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março".