O crescente aumento do nível de ocupação dos leitos hospitalares de Rio Preto preocupam as autoridades do município e ligam também um sinal de alerta para empresários e comerciantes locais, que vivem em clima de tensão. É que uma possível mudança para a fase mais restritiva do Plano São Paulo significa a interrupção do processo de recuperação dos prejuízos acumulados desde o início da pandemia. Atualmente, Rio Preto está na Fase Amarela.
Nesta terça-feira, 12, o índice de ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Rio Preto ficou em 67,4%. De acordo com o Plano SP, as cidades que atingirem o nível de 70% passam a ser reclassificadas para a Fase Laranja.
Apesar mudança em parte das regras do plano de quarentena, anunciada na última sexta-feira, 8, que passou a permitir o funcionamento de alguns estabelecimentos em fases mais restritivas, a possível regressão é muito significativa para alguns setores, afirma o presidente da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp), Kelvin Kaiser.
"Uma mudança de fase, obviamente, impacta principalmente para os setores que não poderão abrir, além, é claro, do impacto no comércio, que precisará reduzir o horário, além da capacidade de atendimento", diz. Atualmente, o comércio está autorizado a funcionar por 10 horas. Na Fase Laranja, o horário será reduzido para 8 horas diárias.
"Ficamos seis meses fechados. Tivemos que encostar funcionários, vendi carro e tive que fazer empréstimo para não fechar as portas. Hoje, estamos tentado nos recuperar, mas vivemos com medo", conta o empresário Rogério Morelli, sócio-proprietário dos bares Bendito Cupim e Seu Bar.
Uma nova regressão no plano de quarentena pode significar muitas perdas e até demissões, já que os bares ficam impedidos de funcionar na Fase Laranja. Essa incerteza tem afetado a rotina dos estabelecimentos, diz o empresário, que passou a trabalhar com estoque reduzido para diminuir os riscos de prejuízos.
A lição veio do início da pandemia, em março. Na época, sem poder atender e com os estoques cheios, parte dos insumos precisou ser doada e outra parte teve que ser jogada fora. "Estamos com o pé atrás. Na última semana, não estoquei nada porque achei que iríamos ter que fechar. Tive que comprar tudo de última hora. Essa incerteza deixa a gente emocionalmente bastante abalado", conta.
Quem trabalha no comércio também está acompanhando a situação do município com atenção. Gerente financeira da confecção de roupas Veste Mais, Vanessa Marcolino Bavutti diz que vê a situação com bastante receio. "Temos lojas em cidades que já regrediram, como [Presidente] Prudente, e as vendas estão sendo bastante prejudicadas. Muitas empresas estão trabalhando no limite, se tiverem que fechar novamente, elas não vão aguentar e as demissões vão aumentar", avalia.
Durante o período de maior restrição do Plano São Paulo, o empreendedor Flávio Barbosa da Silva chegou a ficar cinco meses sem abrir as portas da barbearia El Cartel. Sem poder atender os clientes, aproveitou o período para investir na reforma do espaço. Apesar da ampliação do salão possibilitar o atendimento de mais clientes, o espaço continuou atuando com capacidade reduzida mesmo após a flexibilização.
"Aqui, os barbeiros trabalham como prestadores de serviço. Por isso, não posso contratar um profissional e depois correr o risco de ter que deixar ele em casa. Seria muito ruim".
A estratégia de manter a capacidade reduzida atrasou o plano de recuperação de investimento da empresa, conta Flávio. Segundo ele, por enquanto a barbearia está conseguindo igualizar os custos com os ganhos, o suficiente para se manter no mercado. "Está demorando um pouco mais para recuperar o valor investido. Estamos fazendo o máximo possível para empatar, enquanto isso acontecer não corro o risco de fechar. Se aumentar a restrição, vai ficar difícil", diz.
Depois de um retorno com bom volume de vendas no final de 2020, o movimento de consumidores já voltou a cair com o aumento de casos de Covid-19, afirma o gerente da Oscar Calçados, Tadeu Sabatin. "O comércio voltou um pouco tímido, sinto que as pessoas estão com um pouco de medo. Além disso, janeiro já é um período de poucas vendas".
Sabatin também se diz bastante apreensivo com a situação. Ele avalia que a redução na jornada de trabalho pode significar novas demissões em todo o comércio. "Ficamos preocupados porque a gente talvez não consiga segurar e preservar todos os empregos".
O presidente da Acirp acredita que, neste momento, é fundamental que Rio Preto continue na fase amarela, principalmente porque já temos uma perspectiva de vacinação. "A partir do momento em que se iniciar o cronograma de vacina, automaticamente teremos uma redução da epidemia, caso tudo funcione".
Kaiser reforça ainda que qualquer regressão, mesmo que seja para a Fase Laranja com a calibragem do governo do estado, pode significar o fechamento definitivo de algumas empresas. "Reduzir capacidade de atendimento e reduzir abertura de setores, com certeza, vai representar fechamentos de empresas. Com as restrições, para muitos setores fica inviável abrir", finaliza.