A pandemia de coronavírus fez um "belo" estrago na vida financeira do rio-pretense. Atualmente, são 20 mil endividados a mais do que no mesmo período do ano passado. Dados da Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp) mostram que, até setembro, eram 52.301 devedores, contra 32.684 em igual período do ano passado, o que representa uma alta de 60%. O número de consumidores com contas em atraso significa 11% do total de habitantes de Rio Preto, cuja população é estimada em 464.983, segundo a atualização mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A justificativa para esse aumento considerável, sem dúvidas, foi a crise econômica provocada pelo surgimento da Covid-19, que trouxe desemprego e perda de renda para os trabalhadores. Até agosto, só para se ter uma ideia, o número de demissões já batia 4,6 mil, de acordo com o último levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). "Não nos resta dúvida de que o cenário de instabilidade econômica e financeira da pandemia afetou a população e resultou diretamente no aumento de pessoas endividadas. Mas é importante ressaltar, também, que já vínhamos de quatro anos de recessão na política implantada pelo governo anterior", afirmou o presidente da Acirp, Kelvin Kaiser.
O número de dívidas no comércio de Rio Preto quase dobrou em um ano. A quantidade passou de 60.230 para 118.888, uma alta 97,3%. O levantamento contabiliza dívidas que estão há cinco anos no banco de dados da entidade. O prejuízo para o comércio também cresceu do ano passado para cá, passando de R$ 47,8 milhões para R$ 75,2 milhões, o que significa um crescimento de 57,3% no período.
Segundo Kelvin, é um volume alto o percentual da população endividada que, em outros tempos podia contar com empréstimos para quitar dívidas em atraso. "Durante esses últimos meses houve escassez de crédito pelas instituições financeiras. Além de ficarem desempregadas, as pessoas também não conseguiam acessar facilmente o crédito disponível no mercado. Os bancos sumiram com as taxas de crédito ou dificultaram muito a avaliação para emprestar dinheiro e isso, claro, aumentou o número de novos inadimplentes".
Para o economista José Mauro da Silva, apesar do auxílio emergencial - que injetou dinheiro no orçamento de 127 mil moradores da cidade, o endividamento tem como causa a perda da renda e o aumento do peso dos compromissos financeiros, o que diminui a capacidade de honrá-los. "Os efeitos do auxílio emergencial não reduzem o endividamento, pois são beneficiários que não tinham carteira de trabalho, não tinham renda nenhuma".
O estudo revela que a maior parte dos consumidores que não conseguiu honrar seus compromissos (33.322) têm apenas uma dívida. "São aquelas pessoas que tinham sua vida estruturada para fazer suas compras a prazo e em virtude de toda essa instabilidade não conseguiram acertar suas dívidas. Quando se trata de apenas uma dívida é muito mais fácil recuperar esse consumidor", afirma Kelvin.
Entretanto, outras 15.060 pessoas acumulam entre duas e cinco contas não pagas. O grupo de pessoas com seis a nove débitos é formado por 2.712 pessoas e o grupo que tem mais de dez dívidas é formado por 1.207 consumidores.
O estudo da Acirp aponta ainda que o valor médio das dívidas é de R$ 632,81 e que o valor médio por devedor chega a R$ 1.438,47. A quantidade média de dívidas por pessoa foi de 2,273 no período.
Quando se faz a análise das dívidas incluídas no banco de dados, o que se percebe é que a maior parte tem até um ano, o que totaliza 58.808 contas atrasadas e um total de R$ 27,4 milhões perdidos pelos lojistas até agora, o que comprova o impacto da pandemia na vida financeira dos consumidores rio-pretenses. O banco de dados contabiliza 22.519 contas com até dois anos de inclusão, num total de R$ 22,9 milhões. O grupo com menor número de dívidas é o que está há cinco anos à espera de pagamento, num total de 5.147 e volume financeiro de R$ 3,103 milhões.
A observação das dívidas do rio-pretense por faixa de valor revela que a maior parte (57%) ou 67.863 contas são no valor de até R$ 500. Esse grupo representa um total de R$ 17,2 milhões; em seguida aparecem as contas com até R$ 1 mil, que totalizam 26.825 dívidas ou 22,56% do total e volume financeiro de R$ 19 milhões. O menor percentual, de 3,15%, é composto por dívidas com valor acima de R$ 2 mil, ou seja, 3.743 contas. Entretanto, essa é a soma de maior valor perdido: R$ 26,9 milhões.
O maior grupo de devedores rio-pretenses está na faixa de até 40 anos. De acordo com o estudo da Acirp, são 15.785 pessoas nessa faixa etária com dívidas no comércio, o que representa 30% do total. Esse mesmo grupo têm um total de 37.707 contas não pagas (31,7%) e um volume financeiro de R$ 22,7 milhões. Esse grupo etário é formado por 7.097 mulheres, 4.328 homens.
Campanha
Na segunda quinzena de novembro a Acirp vai promover mais uma edição do "Acertando Suas Contas" para oferecer a possibilidade de o consumidor inadimplente usar a segunda parcela do 13º salário para reabilitar seu nome com condições de pagamento facilitadas e em muitos casos sem necessidade de ir até a empresa credora.