Levantamento da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) aponta que o mercado de frutas, legumes e verduras precisou lidar com momentos atípicos em várias etapas da produção no ano passado, com a demanda irregular impactada pela pandemia de Covid-19 e pelo clima desfavorável nas lavouras. O setor de hortifrútis, segundo a Ceagesp, fechou 2020 com alta de preços para frutas e legumes e de baixa para as verduras. No campo, produtores mantiveram a produção, mas as incertezas do mercado ainda causadas pela pandemia e o clima de longa estiagem do ano passado devem impactar a produção de 2021.
"Ocorreram perdas de produção, o que explica um pouco a alta dos preços, com um mercado diferente, conturbado pela produção mais inconstante por conta do clima e também pela demanda irregular, resultando em preços mais altos a partir de meados do ano", informou a Ceagesp. Com este cenário, a estimativa é de uma alta de 15,94% em produtos comercializados pelo entreposto.
Para os três primeiros meses de 2021, sendo o período de maior incidência de chuvas do ano e com as altas temperaturas, a estimativa da Ceagesp ainda aponta para possíveis prejuízos da produção agrícola, principalmente as culturas mais sensíveis, como as verduras e legumes. Estes produtos devem apresentar problemas de qualidade e menor volume de oferta. "Os legumes e outros produtos poderão apresentar queda ou estabilidade nos preços. Já a maioria das frutas poderá ter boa oferta e preços reduzidos em relação ao ano passado", diz ainda a pesquisa da Ceagesp.
O produtor rural Rafael Martins não pensa em investimentos em novas áreas ou diversificação de culturas para este início de 2021. "Muitas pessoas ainda estão sem dinheiro para o consumo, principalmente porque o ano se inicia sempre com muitas contas para serem pagas. E não dá para pensar em investir muito no campo com as indefinições do mercado", afirma. Os preços dos insumos e de outros custos também subiram para quem produz alimentos, mais um motivo que Rafael aponta para as poucas perspectivas deste começo de ano.
Em Neves Paulista, Rafael produz cinco hectares de quiabo, tomate -cereja, vagem, entre outros alimentos. Ele avalia que a produção do ano passado, entre as incertezas com a pandemia do novo coronavírus e da seca prolongada na região, ainda devem refletir na safra deste ano. "No início do isolamento social, provocado pela pandemia, a nossa demanda cresceu cerca de 20%, porque muitas pessoas estavam consumindo mais em suas casas. E os preços de alguns legumes também tiveram reajuste para o consumidor", diz.
Um dos desafios é manter a produção de 3 mil pés de tomate-cereja (o grape). "O tomate não se desenvolve com as altas temperaturas e nem com as chuvas. E como neste período as chuvas são mais intensas, ocorre o aparecimento de pragas e doenças". Para o cultivo do tomate, o produtor faz o manejo em duas estufas para proteger a plantação.
O ano passado também foi considerado pouco satisfatório para o cultivo de tomate na propriedade de Luiz Carlos Ribeiro, em Orindiúva. Ele plantou 25 mil pés de tomate da variedade Carina Star e estima uma queda de 50% nos preços comercializados, em comparação com 2019. Para 2021, Luiz Carlos tem pouca perspectiva de investimento. "Estou muito desanimado com o mercado, mas ainda devo plantar um pouco de tomate. Só não tenho certeza em continuar com a plantação para as próximas safras", disse o produtor, ao avaliar que em 2020 uma caixa de tomate (de 22 quilos) foi comercializada por R$ 10. No supermercado, o produtor diz que o consumidor paga quase o mesmo preço (o quilo) do comercializado por ele com uma caixa do legume.
Na produção de Wagner Rabachini, a demanda irregular foi superada com a comercialização do produto em diferentes estados e na venda por delivery em Rio Preto. Ele cultiva 10 mil pés de tomate orgânico em Mirassolândia. "A primeira safra aconteceu no ano passado e coincidiu com a pandemia. Na verdade não sentimos tanto o impacto, talvez pelo fato de o produto orgânico ganhar mais consumidores". O alto investimento para produzir tomate orgânico o ano todo é o que ele considera mais difícil. "Investi R$ 3 milhões em estufas automatizadas, um sistema muito diferente do que se encontra em toda a região. O retorno financeiro também deve acontecer em seis anos", diz.