Uma fazenda em Nhandeara, a apenas 70 quilômetros de Rio Preto, é a prova de que o conceito de sustentabilidade pode combinar perfeitamente com alta lucratividade. Ali o gado é tratado em ambiente climatizado e com muito mimo, incluindo música clássica, spa e pilates. O resultado? A conquista de certificação internacional por atender requisitos sustentáveis e o sucesso que permite à butique de carnes instalada na capital paulista poder vender, por exemplo, o quilo da maminha a R$ 200 e o quilo do contrafilé (o famoso bife ancho) a R$ 400 e, de quebra, atrair clientes grifados como os chefs Alex Atala e Paola Carosella.
Apaixonado pelo trato com os animais, em tudo que diferencia a cadeia produtiva da carne bovina e da pecuária brasileira, Ricardo Sechis é o nome por trás desta iniciativa. Ele descobriu na sustentabilidade e no bem-estar animal algo improvável, à primeira vista, para quem faz negócios com gado. Ricardo cuida dos animais do plantel com carinho e mimos, desenvolve pesquisas sobre bem-estar animal e promove a interação do rebanho com o produto final - o da carne gourmet com qualidade.
"Não é impressionante o cliente saber que o produto adquirido (a carne) tem todo um cuidado especial, do nascimento ao abate dos animais?", pergunta o pecuarista.
Na fazenda de 260 hectares, em Nhandeara, o pecuarista possui um "spa bovino" onde recebe os animais para o confinamento, num ambiente climatizado e com a disponibilidade de música clássica, importantes métodos para que o plantel tenha o maior conforto possível. Em outra propriedade rural de Ricardo, localizada no estado do Mato Grosso do Sul, a cria e recria se iniciam com os sêmens importados da Austrália e do Japão para os cruzamentos, das raças do rebanho de carne nobre, com 25% de Angus, 50% de Waygiu e 25% de Nelore.
"Através de estudos que desenvolvemos, é possível notar que o animal precisa dessa interatividade, como fazemos com as bolas de pilates, ao bom conforto dos sentidos, como o da audição. Como acontece com os seres humanos, nos animais esses sentidos são mais aguçados, por isso utilizamos a música, para que eles não fiquem estressados", explica Ricardo.
O manejo, denominado "nada nas mãos", é outro conceito utilizado por Ricardo. Na condução dos animais, ele conta que é importante todo o lado emocional dos animais, tudo que o deixe mais dócil, sem nenhum temor com os funcionários da lida, que utilizam mais o posicionamento corporal com o rebanho. "Tudo isso, uma referência para quando o animal chegar ao frigorífico, que seja de conforto", diz.
Ricardo não é adepto da precocidade do animal para o abate, que ocorre em média, aos 24 meses de idade, com peso médio de 450 kg. "Com o tempo, o animal fica mais bem cuidado", garante o pecuarista, que também desenvolveu um sistema de maior conforto para o transporte dos animais até o frigorífico. Mais uma vez, a música, agora inspirada no berrante - o mesmo som ouvido durante as refeições -, que, segundo o pecuarista, remete à ancestralidade das fazendas, se faz presente, com o acompanhamento de um funcionário para que a boiada sinta-se o mais confortável possível no trajeto para o abate.
Alimentação balanceada
Todo o trabalho realizado para minimizar o estresse causado ao animal, na pecuária de corte, interfere na melhor produtividade do rebanho bovino, segundo a médica veterinária Gabriela de Souza Sartori, responsável pelos animais da fazenda. "No confinamento, os animais ficam em local climatizado, recebem água limpa e de excelente qualidade. Há ainda a interação com as bolas do spa e com sacos de areia (semelhantes aos utilizados por lutadores de boxe), onde podem se coçar e brincar."
Animais mais dóceis, com bom condicionamento físico e alimentar, são levados ainda a não sentir medo do homem, durante o manejo. Gabriela explica que todos estes fatores implicam na melhor qualidade do rebanho. Em consequência, a alimentação de qualidade oferecida interfere na boa qualidade da carne.
Na alimentação dos animais, Ricardo abriu a porteira da fazenda de Nhandeara para a pesquisa, realizada pelo departamento de Engenharia de Alimentos da Unesp, de Rio Preto, investindo na dieta a base da soja em grão. "Acredito na performance do boi atleta, com uma dieta balanceada, que inclui ainda sementes de girassol e de linhaça", diz Ricardo. As refeições do cardápio bovino seguem durante vários períodos do dia, imprescindíveis para proporcionar maciez e o marmoreio nos cortes especiais disponibilizados ao mercado consumidor.