As altas de preços do óleo diesel não poupam praticamente ninguém. É que 60% do que é consumido no Brasil é transportado por rodovias. E, se o combustível sobe, o valor do frete e dos produtos acompanha esse movimento. Isso vale para alimentos secos, carnes, o que é importado e encomendas feitas pela internet.
O aumento mais recente foi anunciado dia 19 pela Petrobras, o maior deste ano. O óleo diesel ficou 15,2% mais caro nas refinarias. A gasolina subiu 10,2%. Dessa forma, com o quarto reajuste do ano, o óleo diesel acumula alta de 27,5% no ano e a gasolina, de 34,8%. Os preços da Petrobras estão alinhados aos do mercado internacional.
Em Rio Preto, o litro do diesel S-10 pode ser encontrado por valores entre R$ 3,499 e R$ 4,199. Já o litro do diesel comum varia de R$ 3,599 a R$ 4,098, segundo pesquisa do Diário de 9 de fevereiro. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, o preço médio do diesel era R$ 3,706 na semana de 7 a 13 de fevereiro.
Os novos valores aos consumidores devem aparecer nas próximas semanas, já que antes de chegar aos postos, os combustíveis ainda passam por distribuidores e revendedores, que estavam tentando segurar parte dos últimos reajustes. No meio do caminho, são acrescidos tributos aos seus preços.
Ao mesmo tempo em que o reajuste foi anunciado pela Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro informou que a partir de 1° de março não haverá nenhum imposto federal sobre o preço do óleo diesel, decisão tomada para tentar evitar uma greve dos caminhoneiros. Os impostos federais que incidem sobre o diesel são PIS, Cofins e Cide - eles compõem 9% do valor final do produto. No meio disso tudo, Bolsonaro indicou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para substituir Roberto Castello Branco no comando da Petrobras.
O governo também enviou um projeto ao Congresso para que o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), imposto estadual, tenha valor fixo. A proposta é que o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) decida qual é o valor do ICMS em cada tipo de combustível.
Para o economista Hipólito Martins Filho, o reajuste do diesel traz problemas de diferentes ordens para a economia brasileira. "Por ser um preço matriz é um reajuste que se propaga por toda a cadeia, do transporte de alimentos, transporte de pessoas a quem tem veículos que usam o combustível", disse. Ou seja, em breve essas altas vão impactar nos índices que medem a inflação e aparecer aos consumidores.
E, quando anuncia que vai isentar o produto de impostos ou vai mexer na gestão da Petrobras, o prejuízo é de ordem macroeconômica, diz Martins Filho. "Essas decisões vão tirando a confiança dos investidores em relação à empresa estatal e ao País. A isenção de impostos é uma medida populista, que vai trazer mais prejuízos à arrecadação federal, afetada em função do recuo da atividade econômica nesse momento de pandemia", afirmou.
Segundo o Luciano Nakabashi, professor de economia da FEA-RP/USP em Ribeirão Preto, o impacto do aumento não chega a ser grande, mas depende do produto e seu valor agregado. A questão é que ele atinge diferentes bens que são produzidos. "O principal custo agora seria uma nova greve de caminhoneiros, ainda mais no momento em que a economia está lenta como agora".
Para o presidente do Sindicato Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado de São Paulo (Sincopetro), de Rio Preto, Roberto Uehara, esse reajuste tem efeitos péssimos. "Como no País o transporte rodoviário predomina, essa alta causa um efeito forte no varejo, um efeito dominó. E, para o setor, quanto mais alta ocorre, mais o mercado se retrai, dificultando ainda mais nossa situação", disse.
Perdas
Para quem atua com transporte, o impacto também não é pequeno. Segundo Jéssica Caballero Lopes, diretora da transportadora Trans Real Logística, além das altas constantes, não ter uma previsibilidade de valor impacta no negócio. "O óleo diesel é responsável por 30% do custo do transporte. E ter um valor novo a cada dia, com sucessivos aumentos, vem dificultando nosso trabalho".
Há contratos com duração de um ano, em que os termos já foram firmados anteriormente com os clientes. Com as altas, a empresa acaba tendo prejuízo. Agora, a diretora da transportadora vai tentar renegociar as tarifas com clientes, em função da última alta do diesel. "Ao repassar no valor do frete, o produto fica mais caro para a indústria. E quem paga, no fim da cadeia, é o consumidor final", disse.
(com Agência Estado)