O empresário Márcio Fidélis, de Rio Preto, tem vivido à base de remédio de pressão para superar os muitos desafios que o setor de bares e restaurantes vêm enfrentando desde o início da pandemia de coronavírus, em março de 2020. "A pandemia tem causado doença nas pessoas, mas é mental, é um cansaço". Fidélis, proprietário do Fidélis Bar da Sombra, personifica a pesquisa diagnóstica feita pelo Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares da Região de Rio Preto (Sinhores).
Levantamento com 103 empresários do ramo, entre os dias 10 e 12 de fevereiro, revela 35,8% pretendem fechar a empresa em até quatro semanas se a cidade continuar na fase laranja do Plano São Paulo. O número salta para 61,3% de empresas que podem ser fechadas em dois meses de fase laranja. A pesquisa revela ainda que 99% dos empresários tiveram queda no faturamento nos últimos 12 meses. A maior parte, 33,3%, teve redução entre 51% e 70% no faturamento; outros 22,9%, entre 31% e 50%. Os dados também apontam para a dificuldade em obter crédito, já que 74,3% não tiveram acesso ao Pronampe - programa de crédito do governo federal - e 62,5% não obteve acesso a nenhuma linha de crédito.
Fidélis abriu seu estabelecimento em 2016 e, desde então mudou de endereço três vezes. A última vez foi em plena pandemia, para reduzir os custos. Agora ele está instalando no Parque Celeste. "O faturamento chegou a cair 80%, agora, com as restrições, está na casa de 50% menor", disse.
Para dar conta de manter o negócio em operação, a mudança de endereço teve como objetivo gastar menos aluguel, que é a metade do antigo valor, assim como as contas de água e energia também diminuíram. "Cheguei a ter dez funcionários, cinco quando começou a pandemia. Agora sou eu, minha mulher e minha filha ajuda nos fins de semana. É um negócio bem familiar."
No meio disso há contas atrasadas, de casa e do bar, o que aumenta a angústia. Sem contar as muitas mudanças de regras, que fazem com que os empresários não saibam se compram estoque, se chamam pessoal para trabalhar, se poderão abrir até qual horário no dia seguinte. "Estoque não paga conta. Não dá para levar uma caixa de cerveja na lotérica para pagar a conta de luz". Apesar de tanta dificuldade e incerteza, Fidélis não pensa em encerrar o negócio.
Segundo Paulo Roberto da Silva, presidente do Sinhores, o resultado da pesquisa é extremamente preocupante. Outro levantamento apontou que mais de 4% das empresas ativas desse setor fecharam na região, mas a estimativa é que pelo menos o dobro tenha encerrado as atividades desde o início da pandemia. "Muitas empresas estão segurando as pontas mesmo trabalhando no vermelho há muitos meses, simplesmente porque seu fechamento seria a ruína total das famílias que delas dependem, principalmente pequenos estabelecimentos, que trabalham em família", disse.
Para o representante do setor, limitar o horário de atendimento desses estabelecimentos não favorece a prevenção do vírus, ao contrário, estimula. "Quanto mais cedo fechamos, mais reuniões familiares e festas clandestinas ganham espaço, infelizmente. Prova disso é o feriado de Natal e Ano Novo, quando o setor esteve fechado e os casos de Covid saltaram". Segundo ele, quando a pessoa se reúne em casa, o cuidado com as regras de prevenção é menor, situação muito pior em festas clandestinas. "Dentro dos estabelecimentos as regras são seguidas e dessa forma é possível garantir um ambiente muito mais seguro em se tratando da proliferação do vírus", disse.
Na fase laranja, os bares estão impedidos de funcionar, mas os restaurantes ganharam uma hora a mais, até as 21h. Permanece proibida a venda de bebida a partir das 20h. Está previsto para esta sexta-feira um novo anúncio pelo governo da classificação no Plano São Paulo, que pode manter Rio Preto na fase laranja ou, finalmente, ir para a amarela, quando os bares podem reabrir.
A Associação Comercial e Empresarial de Rio Preto (Acirp) entrou com mandado de segurança coletivo contra o governo do Estado de São Paulo para que a região passe para a fase amarela.
Para Paulo Silva, para conseguirem se recuperar, seria necessário que as empresas tivessem mais liberdade pra trabalhar. "O ideal mesmo seria que aparecesse uma ajuda real do governo que atendesse essas empresas, ainda que com restrições, para que a sua recuperação fosse mais rápida e que se preservassem os empregos." A pesquisa não traz dados sobre empregos.
Férias coletivas
O empresário Tiago Caparroz, dono de três restaurantes em Rio Preto, decidiu dar férias coletivas para os 118 trabalhadores que emprega. A medida entrou em vigor no dia 12. O funcionamento volta ao normal no dia 12 de março. A decisão foi tomada em função das dificuldades em trabalhar com as restrições em vigor. "Trata-se de matemática pura. O meu prejuízo é menor. Ou seja, vou gastar menos no fim do mês dando férias coletivas do que se trabalhar só no almoço."
Ele conta que, embora ofereça prato executivo no almoço, é no jantar que o movimento fica maior e a margem de lucro aumenta. Só que não dá para trabalhar até as 20h. A decisão das férias coletivas foi tomada antes da permissão de abertura até as 21h. "Sem contar que tem essas mudanças também. Como faço escala de equipe? Como decido o quanto vou produzir?", questiona o empresário.
Tiago diz que foi multado em R$ 6 mil pela prefeitura porque por volta de 20h40 ainda tinha gente no seu restaurante. "As pessoas estavam pagando as contas. Como vou mandar o clientes embora?". Ele afirma que vai recorrer da penalidade.
No auge da pandemia Tiago dispensou cerca de 80 funcionários, mas ao longo do período chamou parte de volta. "Estamos esperando a decisão sobre como vai ser para reabrir e ter um faturamento minimamente suficiente para pagar as contas."