A suspensão do Carnaval causou mais que perdas culturais à população brasileira, provocou perdas financeiras a cidades onde a festividade é considerada como um dos eventos principais do calendário turístico. É o caso de alguns municípios da região de Rio Preto como Votuporanga, Olímpia, Ibirá e Potirendaba, que reúnem milhares de turistas nesta época do ano, o que fomenta diversos setores.
Não é possível precisar dados exatos dos prejuízos aos municípios, mas é certo que hotéis, pousadas, restaurantes, bares, lanchonetes e a própria administração municipal perdem dinheiro com a suspensão da festa para conter a disseminação do coronavírus. E como também houve suspensão do ponto facultativo, muita gente que iria para essas cidades apenas por lazer, desistiu das viagens.
É o caso da pousada Toca das Águas, em Olímpia. Segundo Vera Lúcia Moro, sócia-proprietária do espaço, mesmo com a não realização do Carnaval, a pousada chegou a registrar reserva de turistas interessados em passar alguns dias na cidade. No entanto, muitos deles acabaram desistindo após a definição dos municípios sobre o cancelamento do ponto facultativo. "Não é o Carnaval de rua em si que atrai os turistas, mas o feriado prolongado. Sem isso, a situação ficou bem pior". Nos anos anteriores, todos os 23 quartos da pousada já estariam reservados desde dezembro, conta.
Cerca de 700 empregos temporários não serão criados, destaca o prefeito de Olímpia, Fernando Cunha. Realizado pela prefeitura em conjunto com a iniciativa privada, o Carnaval local consegue girar toda a cadeia turística do município, com a alta ocupação dos hotéis, o uso dos parques e o consequente consumo dos serviços na cidade. "De acordo com os relatórios de ocupação da secretaria de Turismo, e com base nos números da organização do evento, as festividades atraíram, nos últimos anos, um público total de cerca de 60 mil pessoas durante cinco dias de festa".
Em 2020, Votuporanga reuniu um público aproximado de 80 mil pessoas durante os cinco dias de folia. Segundo Rodrigo Beleza, secretário de Desenvolvimento Econômico do município, a estimativa é de o evento tenha girado R$ 20 milhões no ano passado. "A cidade não têm prejuízo sem a festa, mas deixa de ganhar. Isso é notório", destacou. Todo ano, o evento cria cerca de 1,5 mil empregos temporários, além de movimentar empresas de diferentes setores da economia local. "Em 2020, tivemos uma ocupação de 100% em toda a rede hoteleira".
A empresária Lucilene Albertoni é dona de dois restaurantes na cidade e chega a registrar um aumento de 70% no faturamento durante o Carnaval. Sem o fomento do turismo e tendo que trabalhar com capacidade reduzida, ela precisou se reinventar para manter o negócio. "Tirei o self-service e voltei a servir prato executivo. Assim, só cozinho quando o cliente pede". Com essa estratégia, ela diz ter conseguido diminuir os gastos em 60%.
Ibirá
Em Ibirá, que costuma reunir 80 mil pessoas durante quatro dias desta, a projeção é de que o evento movimente R$ 1,5 milhão na cidade e gere 280 empregos temporários. "O turismo reflete no comércio em geral. A prefeitura deve perder a arrecadação de R$ 200 mil em ISS e a rede hoteleria deve ter queda de 60% na ocupação", afirmou Leandro Amêndola de Amaral, diretor de turismo do município.
O empresário Oscar Marques de Souza, do Recanto das Thermas Chalés, em Ibirá, afirma que está sobrevivendo por milagre desde o início da pandemia, já que de maio a setembro do ano passado ficou fechado. O que tem sustentado é a reserva financeira, que está sendo consumida. "Dos seis chalés, que ficam reservados para o Carnaval desde dezembro, apenas dois estão reservados".
O presidente da Associação Comercial de Potirendaba, Fernando Zavam, afirma que apesar de a festa trazer prejuízos para o comércio como um todo, sua suspensão tem o lado positivo de evitar agravamento da situação da Covid. "Fevereiro tem dois dias a menos, mas vamos ficar dois a mais abertos já que não tem ponto facultativo. Isso pode ajudar."
No Hotel Poti, em Potirendaba, os 12 apartamentos sempre ficam ocupados neste período. Agora são apenas dois, também para os próximos dias. O empresário Reginaldo Carlos Teixeira, dono do local, conta que o que tem salvo o movimento é a presente de funcionários de empresas que estão na cidade para atuar na reforma da usina da Cofco. "Essa situação ajuda a amenizar o prejuízo, mas já cheguei a fazer empréstimo para pagar as contas e dispensei três funcionários." Ele também deixou de oferecer refeições no hotel para gastar menos.