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Museu de Arte Contemporânea, em São Paulo, recebe a mostra ‘José Antônio da Silva: Pintar o Brasil’

A exposição que passou pela França e Porto Alegre (RS) conta com telas que incluem paisagens de lavouras, festas populares, cenas religiosas e retratos da vida no campo, apresentando um amplo panorama da vasta produção do artista

por Salomão Boaventura
Publicado há 2 horasAtualizado há 2 horas
Quadro “Natureza Morta em Pontilhismo”, de 1951, que foi exposto no museu de Grenoble, na França, também faz parte da mostra no MAC USP (Reprodução/Instagram @museedegrenoble)
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Quadro “Natureza Morta em Pontilhismo”, de 1951, que foi exposto no museu de Grenoble, na França, também faz parte da mostra no MAC USP (Reprodução/Instagram @museedegrenoble)
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Após ser sucesso de visitação no Museu de Grenoble, na França, e na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre (RS), a exposição “José Antônio da Silva: Pintar o Brasil” entra em cartaz no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC USP), em São Paulo, neste sábado, 15, com inauguração às 11 horas.

As obras da exposição fazem parte de coleções institucionais no Brasil, como o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo e de diversas coleções particulares. A mostra é organizada pela Fundação Iberê Camargo, de Porto Alegre. A curadoria é assinada por Emilio Kahlil, diretor da Fundação Iberê Camargo, e Gabriel Perez-Barrieiro, diretor artístico do Museu Universitário de Navarra. As obras adicionais na exposição do MAC USP foram curadas por Fernanda Pitta.

Foram acrescidas 100 obras do acervo do MAC USP, entre desenhos e pinturas. Dentre as obras, destaque para um conjunto de 75 desenhos originais, 40 deles publicados no livro “Romance de Minha Vida” e 35 inéditos, nunca mostrados em conjunto. O livro é composto por 75 desenhos feitos nas décadas de 1940 e 1950, principalmente de cenas rurais.

“Neste livro, o artista faz de si próprio o protagonista e narrador, construindo uma narrativa em que é simultaneamente sujeito e agente da história. O relato em primeira pessoa — da vida rural à descoberta da arte, do trabalho na roça às primeiras exposições — forja uma imagem pública de artista que se emancipa pela força do próprio talento”, explica Fernanda Pitta.

O curador Gabriel Pérez-Barreiro explica que a criação de personagens é uma parte importante do trabalho de Silva. “Essa imagem de caipira, da pessoa que vive no campo, a vida intensa, a juventude, os primeiros namoros, a ida para a cidade. De muitas maneiras, ele personificou o caipira para o público da cidade de São Paulo. Suas roupas, seu sotaque, sua música, sua autossatisfação, tudo refletia essa classe social orgulhosa, mas subalterna”, conta.

“Pintar o Brasil” também conta com uma cronologia criada por Fernanda Pitta e com o curta-metragem “Quem Não Conhece Silva?”, de Carlos Augusto Calil. Foi produzido, ainda, um livro para a mostra, pela Editora Martins Fontes, que reúne todas as obras expostas e os textos utilizados nas publicações das mostras anteriores - escritos por Pérez-Barreiro, por Pedro Schuller e Vanini Amaral - com a novidade de um texto de Pitta.

A mostra é realizada com patrocínio da Petrobras e do Banco do Brasil, e apoio do Ministério da Cultura por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet.

Artista aclamado

Para o crítico de arte, professor, pesquisador, escritor e jornalista Romildo Sant’Anna, a curadoria da mostra chama atenção para a estética primitivista de José Antônio da Silva em conjunção com o ideário Modernista.

“Silva foi aclamado em sua primeira exposição individual em São Paulo, em 1948. Foi impulsionado por seguidores estéticos de uma das vertentes da Semana de Arte Moderna, como Lourival Gomes Machado, Pietro Maria Bardi (o diretor do MASP), Ciccillo Matarazzo e Assis Chateaubriand, fundadores do MASP, e os críticos de arte ligados aos Diários Associados (jornais e revistas de circulação nacional). Osvald de Andrade, presente à exposição, publicou artigo no Correio da Manhã (Rio de Janeiro) elogiando uma das obras do artista. Escreveu: ‘Na tarde da Galeria Domus tinham se reunido intelectuais e artistas para ver a exposição de estreia de José Antônio da Silva, vigilante noturno de um hotel de São José do Rio Preto... O que ocorrerá com o novo Rousseau? Será sacrificado pela onde de êxito que já o envolveu? Resistirá? Disso depende toda a sua carreira (2.6.1948)’”, afirma.

Para Sant’Anna, o filtro do tempo é o maior crítico das artes, da historiografia, da produção científica e tecnológica. “É importante essa visibilidade que o Silva continuou tendo depois de morto. Ele morreu em 1996 e após quase 30 anos continuam os eventos, continuam exposições não só no Brasil, mas em outros países”, afirma.