Que tal estar cinco minutos ao lado de um acadêmico? Essa é a proposta do "Cinco minutos com um Acadêmico", projeto nascido durante a reunião mensal de dezembro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (Arlec), que foi aprovada pelo grupo e está resultando, agora, em uma série de vídeos de até cinco minutos gravados por meio do celular por membros da Academia.
Nas imagens, os acadêmicos surgem apresentando trabalhos, seja em versos, prosa ou explanação de técnicas, no caso de artistas plásticos. Os poemas ou contos escolhidos ficam a critério de cada associado, que têm optado tanto por obras autorais como clássicos da Literatura. De acordo com Alberto Gabriel Bianchi, presidente da Academia, a ideia da ação consiste em divulgar à comunidade o trabalho dos acadêmicos da Arlec.
"Nosso interesse é o de simplificar e divulgar o trabalho da Academia e que com isso consigamos fazer um trabalho que provoque reação no sentido de passar a admirar e gostar de Literatura", afirmou Bianchi, que ressaltou que todo o conteúdo ficará disponível gratuitamente no site e redes da Arlec.
Para a escritora Rosalie Gallo, membro e 1ª vice-presidente da Academia, é preciso eliminar a falsa imagem de que a Arlec é um grupo elitista, alheio à sociedade e o projeto nasce num momento em que o site e as redes sociais da entidade passam a ganhar força. "Desejamos ser conhecidos e queremos divulgar nossa produção. Se não fosse a pandemia, teríamos desenvolvido, em 2020, ações em escolas. Um dia, num futuro próximo, muitos alunos de hoje serão os acadêmicos cuja responsabilidade será a de manter viva a entidade", disse Gallo, que aos 75 anos, afirmou ter escrito a vida toda e mantido pelo menos 80% do que escreveu em sua trajetória graças à antiga máquina de escrever.
Para ela, o projeto é a prova concreta de que a pandemia não cerceou a produção dos acadêmicos. "Todos estão em franca atividade e esperamos que as pessoas que possam nos ver, nos conhecer ou nos reconhecer sejam agraciadas com a fartura do material gratuito colocado no site", disse.
No projeto, Rosalie gravou, como modelo, um conto que está presente em seu mais recente livro, publicado pela Editora Mentes Abertas, de São Paulo, "Ramos e outras estranhezas". Segundo ela, a obra é uma incursão no realismo fantástico e em breve estará disponível, junto às outras gravações, em versão oficial no site da Academia (arlec.com.br).
Desde a concepção da ideia na reunião, o médico Toufic Anbar Neto, que também é membro da Arlec, quis participar do projeto. De acordo com ele, a ideia é uma nova forma de ligação entre a Academia e o público. Leitor de poemas, ele gravou um vídeo declamando um soneto de Luís Vaz de Camões, ao qual ele se referiu como atemporal e universal, "Amor é fogo que arde sem se ver".
"Neste soneto, o autor lança de mão de ideias opostas para tentar explicar um sentimento complexo como o amor. Eleusa da antítese, recurso literário que aproxima os opostos que parecem contraditórios, mas no caso, são inerentes à própria natureza do sentimento amoroso. No fim, ele apresenta afirmações que levam a uma consequência lógica final, recurso chamado desilogismo. Este soneto inspirou poetas e escritores ao longo dos séculos seguintes. Exemplo disso foi Vinicius de Moraes em 'Soneto de Fidelidade'".
Patrícia Reis Buzzini, escritora, doutora em Tradução e também articulista e colunista da revista Vida&Arte do Diário, é outro membro da Arlec que aderiu à ação, assim como as escritoras Loreni Fernandes Gutiérrez e Vera Milanesi, que também é psicóloga e colunista da Revista Bem Estar. "O projeto é uma forma de alcançar um público diferente pela característica do vídeo em conseguir divulgar nosso trabalho nas mídias", avaliou a acadêmica, que passou a se dedicar mais a escrever poemas nos últimos tempos.
Em seu vídeo, Patrícia declamou versos autorais em uma poema sem título. "Escrevi o poema logo após ler 'A Odisseia' do Homero e utilizei termos da obra que associados ao contexto atual que estamos vivendo me fez deixá-lo, intencionalmente, sem título", explicou a escritora, que disse que poesia, para ela, tem um poder espetacular de concisão, ao mesmo tempo que apresenta uma linguagem forte e impactante, assim como a imagem de um vídeo. "A poesia tem em si a força de abarcar muito os significados", contou Patrícia, que já está selecionando outros poemas para o projeto.
A escritora é um dos membros da Arlec que tem se dedicado às redes sociais da instituição, com a proposta de levar o conteúdo e acervo dos acadêmicos para a internet. "Inauguramos as redes da Arlec com a exposição que fizemos, levando fotos e vídeos para a web. Agora com o novo projeto, que tem a cara da rede social, a proposta vai casar muito bem com a ideia de expandir o público e popularizar o que é produzido em um lugar, muito tempo considerado inacessível", afirmou Patrícia.