O rio-pretense Laerte Cunha atuou como escriturário até se aposentar, mas foi nas artes que ele eternizou seu nome na cidade. Um dos fundadores do Grupo Teatral Rio-pretense (GTR), que se desponta como uma companhias mais longevas do Brasil, e integrante do Coral Paulista Ensemble (antigo Movimento Coral Rio-pretense), ele conquistou plateias e amigos com seu talento e carisma. Cunha morreu na madrugada desta segunda-feira, 4, aos 85 anos.
"Meu pai foi meu grande exemplo. Nasceu em uma família pobre e sempre gostava de falar que, aos 12 anos, se matriculou sozinho na escola. Sempre foi o melhor aluno e foi o único de sua família a ingressar na faculdade. Ele fez Contabilidade na Dom Pedro, onde deu-se o movimento para a criação do GTR, ao lado de nomes como Nelson Castro", conta a atriz Beta Cunha, filha do saudoso artista.
Ao lado da esposa, Zilda dos Santos Cunha, que morreu há 16 anos, o rio-pretense atuou e dirigiu inúmeros espetáculos teatrais, além de fazer parte de diferentes corais até ingressar no Movimento Coral Rio-pretense, que, com a regência do maestro Paulo de Tarso, passou a se chamar Coral Paulista Ensemble. Em 2000, Cunha fez parte da histórica apresentação do coral na Alemanha, na inauguração da embaixada brasileira, com a presença do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Laerte Cunha, o nosso Laertão! Pessoa de caráter admirável, religioso, pai e avô, conselheiro, bondoso, ótimo cantor [baixo profundo], grande amigo. Dono de uma rara e grave voz, além de ser extremamente afinado, tinha um timbre muito bonito. Desde sempre cantou, e muito bem. Participou do coral da Secretaria da Fazenda em Rio Preto, quando conheceu o meu pai, Maury Buchala. Curiosamente, quando tinha 13 anos, me convidou para acompanhá-lo ao piano na música de cerimônia de um casamento na Igreja da Redentora, aquele que fora o meu primeiro cachê como pianista acompanhador. Laerte foi conosco um dos fundadores do Coral da Redentora em 1985, que em 1995 se tornou o Movimento Coral Rio-Pretense e, finalmente, em 2010, Coral Paulista Ensemble. Fica a saudade do sorriso, da sinceridade, da bondade da pessoa que, ao cantar, transbordava amor através da música", comenta o maestro sobre o saudoso amigo.
Para Beta, o pai foi o grande influenciador na escolha da profissão de atriz. "Quando criança, o que dava para assistir eu assistia, pois era a época do regime militar. Aliás, meus pais contavam que eu quase nasci em cena, pois minha mãe, quando grávida, acompanhava meu pai nos bastidores de uma peça. Havia um tiro em cena, e minha mãe se assustou na coxia", relembra.
Segundo a atriz, seu pai deixou de cantar havia uns três anos. "Ele desenvolveu uma demência senil que afetou sua memória e seu humor. Há um ano e meio, ele sofreu uma profunda insuficiência renal, tendo uma rotina bastante restrita desde então", explica.
Além de Beta, Cunha deixa mais dois filhos, Laerte Luís Cunha e Renata dos Santos Cunha.