O cotidiano "invisível" das pessoas em situação de rua é o mote das apresentações virtuais do "Circo da Miséria: o maior desespetáculo da Terra", do artista Jeff Vasques, de Campinas. Em circulação virtual viabilizada pelo Programa de Ação Cultural (ProAC), da Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa, ele promove três apresentações em parceria com o campus de Catanduva do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo). Elas serão nesta terça-feira, 8, às 8h, e quinta, 9, às 9h e 13h, com transmissão pelo canal do artista no Youtube (JeffVasques).
Segundo Vasques, que se dedica à arte da palhaçaria, a enorme desigualdade social do Brasil, com seu alarmante número de pessoas em situação de rua (111 mil, segundo IBGE), é a grande motivação do seu "desespetáculo". "O desemprego, a falta de moradia e de acesso a serviços de educação e saúde de qualidade são causas centrais que levam as pessoas para a rua. Ali, são falsamente rotulados de violentos, preguiçosos, imorais, o que faz com que os passantes ajam com indiferença ou violência. Agora, durante a pandemia, é o segmento da população mais vulnerável ao coronavírus, já que não tem como se manterem em isolamento, nem acesso a condições mínimas de higiene", comenta.
Para ele, a arte e a educação, apesar de sozinhas não serem suficientes para a superação da miséria, ajudam a reverter a indiferença, permitindo que as pessoas se sintam no lugar do outro, os comovendo e provocando para uma ação coletiva transformadora.
No "Circo da Miséria", Magrólhos, um palhaço "vagamundo", perambula como um mambembe por ruas e praças, armando seu circo diário por sobrevivência diante do "desrespeitável" público passante. A partir dos restos da humanidade, do lixo, cria maravilhas em busca de um simples olhar ou de um trocado, fazendo-se dançarino, malabarista, acróbata, mágico e o que mais for necessário para domar seus leões, para se fazer um pouco mais visível e humano.
O espetáculo foi construído a partir de oficinas ministradas por Vasques para a população em situação de rua em 2015. Suas histórias, lutas e olhares dirigem o "Circo da Miséria". "A utilização da linguagem do palhaço vagabundo foi decorrência natural da temática. Esse tipo de palhaço, que vive em situação de rua [como Carlitos, de Charles Chaplin; Chaves, do seriado mexicano] usa da criatividade e de sua esperteza para garantir sua sobrevivência, nos lembrando que por trás das roupas surradas há um ser humano como qualquer outro."
A apresentação é sempre seguida de um bate-papo para desfazer preconceitos sobre o povo da rua e, também, faz parte do projeto, a realização da oficina "A miséria e o palhaço vagabundo", para debater a origem e função desse tipo de palhaço.