Diário da Região
CUIDADO DESDE CEDO

Câncer de mama pode atingir mulheres abaixo dos 40

Câncer de mama é mais raro entre mulheres com idade menor de 40 anos, mas existe e tende a ser mais agressivo; por isso, cuidado deve começar antes quando há histórico familiar

por Millena Grigoleti
Publicado em 08/10/2021 às 21:23Atualizado em 09/10/2021 às 09:47
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Outubro é o mês de conscientização sobre o câncer de mama (Freepik / Banco de Imagens)
Outubro é o mês de conscientização sobre o câncer de mama (Freepik / Banco de Imagens)
Como a mãe teve câncer, Cintia fazia acompanhamento e descobriu tumor aos 34. Hoje está recuperada (Arquivo Pessoal)
Como a mãe teve câncer, Cintia fazia acompanhamento e descobriu tumor aos 34. Hoje está recuperada (Arquivo Pessoal)
Ellen Silva, de 37 anos, descobriu tumor aos 35: passou por tratamento e agora passa por acompanhamento médico (Arquivo Pessoal)
Ellen Silva, de 37 anos, descobriu tumor aos 35: passou por tratamento e agora passa por acompanhamento médico (Arquivo Pessoal)
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A vendedora Ellen Silva, de 37 anos, descobriu aos 35 que tinha um câncer de mama. Sua avó materna, Antônia, faleceu aos 72 anos vítima da doença, diagnosticada em estágio avançado; o irmão, Ademir, lutou contra um tumor quando ela era criança.

Ellen faz parte de uma parcela das mulheres que tiveram câncer de mama antes dos 40 anos. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 1.198 mulheres morreram em decorrência desse tumor, que é o mais comum na população feminina, na região de Rio Preto entre 2011 e 2020. Desse total, 76 delas tinham menos de 40 anos. Na cidade de Rio Preto, foram 391 vítimas do câncer, 24 delas jovens.

Assim como em qualquer tipo de tumor, o diagnóstico precoce do câncer de mama é essencial para o sucesso do tratamento, que pode envolver cirurgia, quimioterapia e radioterapia, dentre outros. “Nas pacientes mais jovens, o fator genético é o principal. Elas têm um tipo de câncer mais agressivo”, explica a mastologista Silvia Aparecida Perea, do Hospital de Base. Segundo ela, as mulheres mais novas têm uma mama mais densa, composta por muitas glândulas e pouca gordura, por isso nem sempre a mamografia é o suficiente para detectar os nódulos, sendo necessárias também ultassonografia e ressonância.

Quando há histórico familiar, o recomendado é começar o rastreio com 35 anos, a não ser que haja muitos casos na família ou que parentes próximos da mulher tenham descoberto tumores ainda mais cedo – nesses casos, o acompanhamento deve iniciar ainda antes.

Ellen passou por cirurgia de retirada das mamas e reconstrução delas, quimioterapia, radioterapia e ainda toma um medicamento para evitar o reaparecimento do tumor, além de fazer um acompanhamento trimestral. Ela teve quatro pontos de metástase (para onde o tumor se espalhou), mas hoje comemora vida nova. “No primeiro instante, eu lembrava do Emerson, como ele passou por esse tratamento quando eu era criança. Ele lutou bravamente, só lembrava dele. E de Deus e da força interna que vem, parece aquela de quando você se torna mãe.”

A administradora Cintia Carina Fernandes Martines, de 42 anos, descobriu um câncer de mama quando tinha 34 anos. A mãe dela, Maria Izabel, morreu vítima da doença e por isso ela fazia acompanhamento desde os 26 anos. Em muitos exames, não apareceu nada, até que um nódulo foi identificado. Foi preciso fazer cirurgia e quimioterapia.

“Sozinha não seria possível superar, tive muito apoio da família, minhas irmãs. Combinava os lenços com cada roupa, fora que sempre estava com maquiagem, que é um grande truque na fase das quimioterapias. Talvez a grande mudança nessa época foi que fiquei muito mais vaidosa do que antes, e passei a me olhar mais, a me encontrar, entender quem eu realmente era e o que eu poderia mudar no meu dia”, conta a administradora.

Autoexame

De acordo com a mastologista Sílvia, o autoexame é um aliado importante. Desde jovem, é importante que a mulher toque as mamas mensalmente, sempre após o período menstrual, para conhecê-las e poder detectar se aparecer algo diferente. Em caso de qualquer mudança, o recomendado é procurar um médico imediatamente. Inclusive para quem já faz o rastreamento com o médico, o autoexame é um complemento, jamais algo que deve substituir o profissional.

ENTENDA O CÂNCER DE MAMA

Quais os fatores: Ser mulher e envelhecer são os principais fatores que aumentam o risco de o câncer

 

Ambientais

  • Obesidade e sobrepeso principalmente após a menopausa
  • Sedentarismo
  • Consumo de bebida alcoólica
  • Exposição frequente a radiações ionizantes (raios-X)

 

Hormonais

  • Primeira menstruação (menarca) antes de 12 anos
  • Não ter tido filhos
  • Primeira gravidez após os 30 anos
  • Não ter amamentado
  • Parar de menstruar (menopausa) após os 55 anos
  • Ter feito reposição hormonal pós-menopausa, principalmente por mais de cinco anos

Genéticos

  • Histórico familiar de câncer de mama e ovário, sobretudo em parentes de primeiro grau antes dos 50 anos

Alteração genética

  • A presença de um ou mais desses fatores de risco não significa que a mulher terá necessariamente a doença

 

Como surge

  • Doença ocorre em razão da multiplicação de células anormais da mama. Isso forma um tumor com potencial de invadir outros órgãos. Há vários tipos de câncer de mama. Alguns se desenvolvem com mais rapidez e outros não. A maioria dos casos tem boa resposta ao tratamento, principalmente quando diagnosticado e tratado no início

 

Casos

  • A região teve 1.198 mortes por câncer de mama em dez anos. Do total, 76 vítimas tinham menos de 40 anos. Em Rio Preto, foram 391 óbitos – com 24 tendo até 39 anos

Como fazer o autoexame

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1 - Examine os seios no chuveiro ou banheira, pois as mãos escorregam mais facilmente quando a pele está molhada. Com os dedos esticados, mova-os em toda área de cada mama, procurando por protuberâncias ou caroços duros. Verifique a espessura

2 - Fique de pé em frente ao espelho e olhe os seios. Observe primeiro com os braços esticados ao lado do corpo, depois com as mãos na cabeça, depois com as mãos na cintura apertando bem para que seus músculos do peito estejam flexionados. Procure por protuberâncias, diferenças em tamanho e formato e inchaço ou ondulações na pele. É normal os seios não serem exatamente iguais

3 - Examine os seios com os dedos enquanto estiver sentada ou em pé. Devagar e metodicamente aperte o seio com a mão oposta a ele. Com seus dedos esticados, trabalhe na direção circular ou em espiral, começando do mamilo e movendo gradativamente para fora

4-Deite e repita a etapa anterior (3). Coloque um pequeno travesseiro ou uma toalha enrolada atrás do seu ombro esquerdo e ponha o braço esquerdo atrás da cabeça. Isso distribui o tecido dos seios mais igualmente no tórax. Use a mão direita para examinar o seio esquerdo, como no terceiro passo, e depois use a mão esquerda para examinar o seio direito. Sinta se há algum caroço que não existe na mesma área do outro seio

- Aperte o mamilo de cada seio gentilmente entre o polegar e o dedo indicador. Fale para seu médico imediatamente caso ocorra alguma descarga de fluído

ORIENTAÇÕES DO AUTOEXAME

  • Permite perceber alterações nas mamas. Qualquer sinal de alarme, procure um mastologista (médico especialista em mamas)
  • Não é diagnóstico e não substitui a visita ao mastologista.
  • A mamografia é o único método de detecção precoce.
  • Peça sempre orientações a um médico especialista
  • Não deixe de fazer consulta de rotina

Fator genético influencia

José Luís Esteves Francisco, mastologista do Hospital de Base, diz que o fator genético é o mais importante entre as mais jovens. Ele orienta que aquelas que descobrem o tumor antes dos 40 anos deveriam fazer um teste genético para descobrir se há mutações nos genes e orientar parentes de primeiro grau – mãe, filhas e irmãs – para que também estejam atentas. Esse teste também serve para direcionar o tratamento e detectar risco de desenvolver tumores em outras áreas, como ovários. “Na jovem, o tumor de mama pode ser mais agressivo principalmente porque é do tipo triplo negativo, que é mais agressivo.”

Um problema é que o teste genético, feito com amostras de sangue da paciente, não está disponível no SUS, o que muitas vezes prejudica o diagnóstico precoce. Segundo José Luís, em alguns casos os convênios médicos autorizam sua realização. “Seria importante se tivesse em mãos esse teste, a mulher pode ser a primeira da família a ter a mutação. Antes ele era muito caro, hoje ele varia de R$ 4 a R$ 6 mil, mas mesmo assim é muito caro”, afirma Silvia Aparecida Perea. (MG)