Nove em cada dez alunos da rede pública de Rio Preto terminam o ensino médio sem o conhecimento adequado em matemática. Isso quer dizer que apenas um em cada dez estudantes conseguiu ter o domínio para resolver problemas matemáticos no 3° do ensino médio.
Os dados consideram o resultado da Prova Brasil 2019, antes da pandemia e dos alunos ficaram praticamente um ano letivo aprendendo de forma remota. Ou seja, não leva em consideração estudantes que encontram dificuldades por não terem acesso à internet.
A tabulação dos resultados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) 2019 foi feita pela plataforma QEdu e pela Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional (Iede), com apoio da Fundação Lemann.
Ainda em matemática, em Rio Preto outros 49% dos alunos aprenderam o básico e 42% tiveram conhecimento insuficiente.
Já em português, a taxa de alunos que aprenderam o adequado na competência de leitura e interpretações de texto é melhor. Os dados apontam que 43% é a proporção de estudantes que obtiveram conhecimento adequado em português; outros 34% obtiveram conhecimento básico e 23% não aprenderam o suficiente.
Em todo o País, os dados são ainda piores e mostram que 95% dos estudantes brasileiros terminam a escola pública sem o conhecimento esperado em matemática.
Para a professora doutora da Unesp de Rio Preto Ana Paula dos Santos Malheiros, responsável pela formação de professores de matemática, os dados são assustadores. "A matemática ainda é vista como algo muito distante da realidade dos estudantes. Recebemos muita matemática, mas não conseguimos ler isso no nosso dia. Falta uma aproximação maior dos alunos com a disciplina. A questão da pandemia, por exemplo, é cheia de matemática quando nos referimos à taxa de ocupação ou média móvel de casos de Covid-19".
Ana Paula destaca o empenho dos professores. "Muitos têm se desdobrado para ensinar durante a pandemia". Para ela, existe um problema estrutural na educação básica brasileira. "Penso que temos um problema muito sério nas escolas estaduais, que é um foco muito grandes nas avaliações de larga escala para ver se aquele conteúdo foi dado naquele momento. O Estado ainda entende que todas as turmas têm que aprender todo o conteúdo ao mesmo tempo. E isso não é a realidade de todos", apontou.
Já na opinião do diretor adjunto do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), Claudio Landim, o problema pode também estar na formação dos educadores. "Já nos primeiros anos, os alunos têm aulas de matemática com pedagogos que não sabem matemática. Temos várias universidades privadas que oferecem cursos de licenciatura e formam mal pedagogos que precisam ensinar matemática nas primeiras etapas da educação básica. E a matemática, ao contrário das outras áreas, é cumulativa, o aluno precisa aprender a subtrair e somar para avançar".
O coordenador de pesquisas do Iede, Vinícius de Moraes, afirma que um dos fatores para o baixo desempenho dos estudantes pode estar atrelado a déficit de professores da área de exatas. "No ensino médio, por conta da complexidade em matemática, é notória a escassez de professores. Esse é um elemento que contribui para esses indicadores", destacou.
Ele também afirma que os dados visam ajudar nas políticas públicas educacionais. "Quando eu digo que 49% dos alunos das escolas públicas de Rio Preto saíram do ensino médio aprendendo matemática no nível básico, estou falando que o estudante saiu com um nível de informação muito parecido com o que ele entrou no ensino médio", explicou.
Em Rio Preto, todas as escolas públicas do ensino médico são coordenadas pela Secretaria Estadual de Educação. Procurada, a pasta diz que tem trabalhado para melhorar os indicadores, inclusive durante a pandemia. "Percebemos que conforme os alunos vão avançando no processo de aprendizado, as defasagens em cada série não vão sendo supridas. Elas vão se acumulando de uma série para a outra. E à medida que não são resolvidas chega com esse indicador no ensino médio", disse o supervisor da Diretoria de Ensino de Rio Preto, Bento Teixeira dos Santos.
Apesar disso, Bento diz que houve uma melhora, em comparação aos anos anteriores. "Mesmo com esse percentual baixo de níveis adequado, 50% de nossas escolas de ensino médio de Rio Preto atingiram a meta. Eu entendo como um dado bastante significativo".