Taxas de ocupação de UTI superando os 100% - o que significa que até os leitos de reserva encheram. Vírus mais transmissível, por causa da nova variante; doença mais violenta e atingindo os mais jovens. Pacientes sufocando à espera de uma vaga. Médias diárias de novos casos superando os 400, e mortes chegando a dois dígitos, os mais altos índices desde o início da pandemia.
Não apenas o sistema público de saúde colapsou, o particular também travou. Leitos foram criados, mas não foram suficientes para dar conta da irresponsabilidade de parte da população, que foi a festas clandestinas e foi às ruas sem máscara. Há atualmente impossibilidade de abrir mais vagas: não se encontram profissionais qualificados para lidar com tão complexo paciente e medicamentos e equipamentos estão em falta no mercado. Vacinas vêm a conta-gotas, e nem 5% da população estão protegidos contra o coronavírus. Essa triste mistura de fatores, que em conjunto com a Covid matou centenas de pessoas, foi o cenário que levou Rio Preto ao lockdown.
Rio Preto foi a segunda grande cidade de São Paulo cidade a entrar em lockdown no Estado, atrás de Araraquara e junto com Ribeirão Preto. A Secretaria de Saúde de Rio Preto sabe que o lockdown é doloroso, mas diz que não havia mais nada a ser feito. "Mesmo abrindo essa quantidade de leitos a gente percebeu que tinha que tomar uma atitude mais grave, sabendo que tem efeitos colaterais. Em vários locais onde o lockdown foi feito, mostrou-se uma medida efetiva", afirma André Baitello, assessor da pasta.
Helena Lage Ferreira, virologista da Universidade de São Paulo (USP), também explica que quando há muitos casos e internações, sem perspectiva de vacina, como é o caso, a única forma de interromper a transmissão do vírus é por meio do lockdown. "As pessoas vão parar de se encontrar com outras pessoas potencialmente infectadas e com isso a gente consegue diminuir o número de casos."
Carolina Pacca, doutora em Virologia e professora da Faceres, também é categórica em dizer que sem vacinas e com o sistema de saúde em colapso a única saída é o lockdown. "A gente tem consciência de que é uma medida amarga para a economia, mas a economia depende de vidas, e precisamos salvar vidas", argumenta.
Suzana Lobo, responsável pela UTI do Hospital de Base e diretora da Associação de Medicina Intensiva Brasileira, defende que não havia outra alternativa, senão o fechamento da cidade. "Nós só temos essa solução. Vão faltar remédios, antibióticos, até oxigênio se os números continuarem crescendo no ritmo que está".
O índice de internação ainda não caiu, mesmo com o lockdown, porque os hospitais precisam de um tempo para sentir esse impacto. Os pacientes que estão sendo internados hoje contraíram a doença há duas ou três semanas. Em duas a três semanas, os hospitais devem começar a respirar.
Segundo Baitello, a Prefeitura de Rio Preto não deve prorrogar o lockdown, que está previsto para terminar no dia 31 de março. Não porque não seja preciso para frear a pandemia, mas porque a pressão para que as restrições afrouxem é grande. Segundo o secretário de Saúde, Aldenis Borim, ainda é cedo para fazer uma avaliação do fechamento. "Demora um determinado tempo para que ocorra a queda nas internações", pontua. Borim diz que houve quem quebrou as regras do lockdown e destaca que os profissionais de saúde não "boicotaram" o atendimento. "Eu não respeito quem faz isso".
Essa parcela da população, que não acredita, acaba agravando a situação e levando os gestores a adotarem medidas mais severas e prorrogando a crise - de acordo com Maurício Lacerda Nogueira, 15 dias de lockdown efetivo, com a grande maioria da população em casa, seriam mais eficazes no combate à doença do que 30 a 45 dias de regras mais frouxas. "Ou a gente faz um lockdown pra valer, que pode ser até curto, ou a gente vai ficar abrindo e fechando até setembro ou outubro."