Quem passa pelo Centro de Rio Preto percebe cada vez mais a forte a presença de moradores de rua, principalmente nas imediações da avenida Bady Bassitt e do Terminal Urbano, chegando até o complexo de viadutos Jordão Reis, onde cresce a cada dia a população de uma minifavela. A situação é vista com preocupação pela Polícia Militar.
Comerciantes e moradores próximos reclamam de sujeira, mau cheiro e violência. Na madrugada de sexta-feira, 15, um morador de rua foi preso após atear fogo contra outro morador de rua. Também há uma investigação em andamento no 1º Distrito Policial sobre a suspeita do envolvimento de uma moradora de rua no incêndio de uma agência do Banco do Brasil, no centro da cidade.
Apesar da Prefeitura apontar queda da quantidade de moradores de rua, quem trabalha ou mora na região acredita que nunca houve tanta gente sem ter onde dormir. Um dos exemplos está no canteiro central da avenida Philadelpho Gouveia Neto, transformado em moradia por dez moradores de rua. Perto dali, um estacionamento também virou dormitório para mais seis deles.
Funcionário do Terminal Urbano, Carlos (nome fictício) diz ficar com medo de passar de madrugada em meio aos ocupantes da praça ao lado. "É muita gente ali bebendo. Já vi eles brigarem uns com os outros. Deixa a gente meio inseguro. Alguém precisa fazer algo", reclama.
Um vendedor de uma das lojas de veículos instaladas na Philadelpho acha inadequado a formação da favela próximo do viaduto Jordão Reis. "Ali não é lugar para ninguém viver. Precisa de alguém da Prefeitura tentar tirá-los de lá e arrumar uma moradia para os moradores", diz o vendedor, que prefere não se identificar.
O mais novo ponto de concentração da população em situação de rua é um posto de combustível recentemente desativado na esquina entre as ruas Bernardino de Campos e a avenida Philadelpho.
Um dos oito novos moradores do posto, Ademar Antonio Manoel, 40 anos, diz que foi obrigado a viver no local após ter sido despejado da casa onde morava, no bairro Vitória Régia. "Sou calheiro. Serviço eu tenho na hora que eu quiser, mas o que eu preciso urgente é de internação para sair do vício da bebida. Só assim saio das ruas", afirma.
Usuária de entorpecentes, Michele Rocha, 38 anos, também mora no posto. "Já fui casada, tenho filhos, mas não vou mentir, estou aqui por causa da droga e da pinga, além da depressão", diz ela, que reclama do alto risco de estupro que as mulheres em situação de rua enfrentam.
Vizinho do posto de combustíveis, o borracheiro Leo Lael, 61 anos, reclama da difícil convivência com moradores de rua. "Aí está demais, está triste. Hoje comprei creolina e desinfetante para reduzir o forte cheiro de fezes. Deveria cercar o posto, já que está fechado. Ali não é lugar adequado pra ninguém viver", considera.
Já na avenida Bady Bassitt, de dia, eles ocupam os canteiros centrais e de noite permanecem sob as marquises de lojas. Um dos moradores de rua é Romildo Pereira de Sousa, 35 anos, que chega a tomar banho na torneira usada para jogar água nas plantas do canteiro central. "A Prefeitura ajuda pouco a gente. Por exemplo, só podemos tomar um banho por dia, uma lavagem de roupa por dia, no Centro Pop. Além de ser uma burocracia o atendimento."
Colega de Romildo, Alexandre Mendes, 42 anos, cobra da Prefeitura a colocação em cursos técnicos. "É uma mentira quando dizem que a gente não quer sair das ruas. Quem quer viver deste jeito pra sempre? Eu quero minha casa própria, mas preciso passar por um curso de reciclagem para conseguir emprego", diz.
Com 40 anos, o morador de rua Eduardo Galvão Araújo diz que a única ação constante da Prefeitura junto aos moradores de rua é enviar funcionários para fazê-los responder questionários. "Não adianta mandar aquelas moças só para fazer perguntas. A gente precisa de clínica de tratamento para sair do vício, precisa de emprego, lugar decente para morar. Eu agradeço a comida que muitas entidades dão para gente, mas nós precisamos mais do que isso para sair das ruas", reclama.