Pacientes no chão ou em pé, sem lugar para descansar e precisando de oxigênio, com espera de pelo menos quatro horas para atendimento. Pouco antes do meio-dia, horário em que normalmente o movimento nos postos de saúde está mais calmo, dezenas de pacientes com sintomas de coronavírus aguardavam na unidade básica de saúde (UBS) do Solo Sagrado nesta terça-feira, 5. Ali, somente são atendidos pacientes com sintomas respiratórios. Já na entrada, os funcionários informavam que a espera seria de quatro horas. Mas todos os pacientes ouvidos pela reportagem relataram que permaneceram por mais tempo.
Quem passa pela frente do posto pode pensar que o fluxo está normal. O movimento, no entanto, está na parte interna, como constatou nesta terça-feira, 5, a reportagem. Neste local, uma agente de saúde comenta: o movimento triplicou. É lá que estava Paulo (nome fictício para preservar a identidade), de 16 anos. Ele chegou às 9h30 e conseguiu atendimento às 15h. "Na triagem demorava um pouco, e não tinha cadeira para sentar. Muitas pessoas sentadas na parte de fora de onde eu estava, muitas pessoas no chão também", relatou. Ele foi testado para coronavírus com o PCR (cotonete), considerado o exame mais confiável, e foi medicado. "A gente fica preocupado, porque eles falam para não se aglomerar e o posto de saúde está todo aglomerado. Muita gente que está lá sabe que está com Covid. Aí rela nas cadeiras, tosse, tira a máscara."
José (nome fictício), pastor de 37 anos, passou pela unidade, que funciona diariamente das 7h às 22h. Ele disse ter ficado lá na segunda-feira das 11h às 21h. Sentia dor de cabeça, na garganta e no corpo. Fez o teste PCR e também foi medicado. "Estava lotado. Tinha muita gente, muitas pessoas sentadas no corredor, no chão, com tubo de oxigênio em cadeira. Como manter o distanciamento superlotado?", questionou.
Gabriel, de 15 anos, foi com o pai também na segunda-feira e contou que chegaram às 11h e saíram às 21h. O pai, de 37 anos, estava com sintomas gripais, dor no corpo e dor de cabeça. Ele fez os exames e foi medicado. "Estava realmente lotado. Havia apenas dois médicos tratando os pacientes. Pessoas com tubo de oxigênio apoiadas em cadeiras, pois não havia maca, pessoas mais velhas esperando há muito tempo, pessoas de idade aguardando no chão por não ter muitos assentos", descreveu o jovem.
Pela tarde desta terça-feira, a situação não estava diferente, como contou Junior Ribeiro, motorista de 30 anos, que chegou às 11h30 e às 18h não havia sido atendido. Ele estava com dor de cabeça, no corpo e na garganta e vômito e comentou que havia pessoas esperando há mais tempo. "Duas horas mais ou menos para triagem e não passei pelo médico nem exames. Esse tempo todo não vi higienizando cadeira, não vi ninguém higienizando nada. Sai um senta outro a todo momento, é gente sentando no chão, uma coisa fora do comum, descaso total mesmo."
Na entrada da UBS, os funcionários informam que o paciente pode, se desejar esperar menos, se dirigir até as unidades do Anchieta ou do Caic/Cristo Rei. Nesses dois locais, a situação é pouco melhor.
Kely levou a mãe, idosa de 87 anos e com Doença de Alzheimer, que estava com sintomas gripais, até o Anchieta na segunda-feira, 4, depois de receber a informação de que lá a situação estaria mais tranquila. Depois de três horas, elas foram embora sem atendimento. Na terça-feira, nova tentativa foi feita. Depois de mais três horas, a idosa foi atendida, examinada e medicada. "Estava preocupada e ainda continuo, afinal minha mãe fez o exame, porém ainda não saiu o resultado. Disse que tenho que esperar uma semana para saber, e com isso temos que ficar em isolamento total", afirmou Kely. "Ela é uma senhorinha muito frágil, tem Alzheimer, então todo cuidado é pouco. Mas tenho fé que não será nada de tão grave."
Rio Preto chegou a ter dez unidades básicas de saúde dedicadas a atendimento de síndromes respiratórias. Em sete delas, o atendimento normal já foi restabelecido quando a pandemia começou a ser freada - desde meados de novembro, no entanto, os números estão em ascensão. Nesta terça-feira, 5, foram confirmados 576 casos, o quarto maior número desde o início da pandemia. Agora, são 35.789 casos de Covid-19. Também foram registradas nesta terça-feira, 5, mais seis mortes, totalizando 937.
O secretário interino de Saúde, André Baitello, considera que a fila de espera nesse momento é decorrente das festas de fim de ano, que impactaram no aumento no número de casos. Ele disse que todos serão atendidos, de acordo com a prioridade, e descarta que haja espera de quase dez horas, como relataram os pacientes. "O que vamos fazer por enquanto é ver a demanda. Se continuar alta nos próximos dias, cinco a dez, a gente deve providenciar mais unidades. A gerente do setor está avaliando a possibilidade de ampliar, mas vamos aguardar." Segundo o médico, pode-se providenciar a higienização dos assentos, problema que foi denunciado por um paciente.
"Na primeira quinzena de novembro tivemos 3.955 atendimentos nas três unidades respiratórias. Na segunda quinzena passou para 5.192 atendimentos e em dezembro foram realizados 10.462 atendimentos", afirmou Baitello por meio de nota. No texto, a saúde informou que o Comitê de Enfrentamento ao coronavírus já está analisando a possibilidade de abrir novas unidades respiratórias para atender a demanda crescente e reforçou que todas as unidades respeitam as normas sanitárias e possuem cadeiras em número suficiente, dispostas em acordo com as regras de distanciamento.