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02.Jan.2021 às 15h50

CRÔNICAS DO MARIVAL

'Boi Soberano', clássico caipira, convida a refletir sobre o bem e o mal

'Boi Soberano', clássico caipira, sintetiza dualidade do bem e do mal e convida à reflexão sobre o risco de rotular as pessoas


Por: Marival Correa
Ilustração de Gustavo Rodrigues Pelissari sobre o Boi Soberano
Ilustração de Gustavo Rodrigues Pelissari sobre o Boi Soberano - Colaboração/Gustavo Rodrigues Pelissari

No ano de 1970, o Diário da Região publicou por um período historietas ilustradas sobre personagens do Velho Oeste... mocinhos e bandidos medindo forças, em duelos não raramente trágicos. Um desses personagens era Wild Bill Hickok, vulto histórico que lutou no exército da União durante a Guerra Civil Americana. Mas ele também foi um sujeito controverso, após se tornar xerife nos territórios de Kansas e Nebraska e se envolver em vários tiroteios notórios. Meio herói e meio vilão, acabou morto durante um jogo de pôquer num saloon em Dakota, em agosto de 1876.

É comum a má fama preceder muitas pessoas. Na dúvida, não raro, julgam antes, condenam antes e sobre alguns recai um rótulo que não necessariamente condiz com a realidade. Também não raro, paga-se um alto preço por isso.

Há um século, em 1920, uma epidemia de varíola atingiu Rio Preto, levando a Prefeitura a decretar o "Isolamento Municipal". A exemplo do que vivemos atualmente com a pandemia de coronavírus, naquela época havia quem contestasse as medidas sanitárias adotadas por achá-las rígidas demais.

A tensão em um lugar que já havia sido atingido pela gripe espanhola foi inevitável, com denúncias, acusações e dissidências. Naquele momento delicado, dois personagens destacaram-se: os médicos José Mendes Pereira (que em 1924 viria a ser um dos fundadores da então Casa de Saúde Santa Helena) e José Gonçalves Gomyde. Ambos atuaram de maneira firme no isolamento, sem cederem a pressões ou a julgamentos se eram vistos como heróis ou vilões.

Consta que no dia 1º de fevereiro de 1921, a Câmara Municipal autorizou o então prefeito Presciliano Pinto a pagar uma gratificação de 1:000$000 (um conto) a Pereira e de 200$000 (duzentos mil réis) a Gomyde pela atuação dos dois no atendimento prestado aos pacientes durante aquela epidemia. No final, superadas as controvérsias, o bom senso prevaleceu.

É possível perceber, assim, que a linha que divide vilões e mocinhos nem sempre é muito nítida. Um prato cheio para construção de metáforas e histórias em que estes dois mundos - do bem e do mal - em algum ponto colidem. Quem afinal é o herói? Qual acontecimento é capaz de trazer a verdade à tona, de derrubar as máscaras, de revelar a índole de alguém?

O universo caipira é recheado de modas que enfocam essa dualidade. Exemplo clássico ocorre em Boi Soberano. A letra do compositor e poeta rio-pretense (radicado em Tanabi) Izaltino Gonçalves, 91 anos, fala de um típico transporte de boiada com destino a Barretos. Eram 600 bois cuiabanos - também chamados de pantaneiros, rústicos e resistentes a intempéries (estiagens, inundações etc.) - e entre eles destacava-se um pela sua má fama, por ter já causado "diversos danos", por ser "criminoso" e por ser "leviano nas guampas".

Era, é claro, o boi Soberano. Quando a comitiva entra em Barretos, o cenário perfeito para uma tragédia se estabelece. A boiada "estoura", tendo à frente o tal animal "afamado". As pessoas gritam, o comércio fecha as portas. Uma criancinha que brincava na rua, ao ver o tropel, desmaia de susto. O Soberano estaca em frente ao menino e começa a rebater com o chifre os outros bois, evitando que ele seja pisoteado. Ao ver aquela cena, o pai se atira no chão temendo pela vida do filho e jura de morte o Soberano, caso algo aconteça ao pequeno.

No final, ao ver que o boi então malvado havia salvado a criança da morte certa, o pai acaba por dar outro destino ao animal. Movido por imensa gratidão, vendo o filho são e salvo, compra o bruto de má fama. "Esse boi salvou meu filho, ninguém mata o soberano".

Sem fronteira

Um tema tão instigante que não conhece fronteiras, mesmo onde a música caipira não é exatamente a expressão cultural predominante. "Já encontrei pessoas entoando modas raízes nas mais diferentes regiões do País, até mesmo na Amazônia", conta o professor, escritor e pesquisador rio-pretense Romildo Sant'Anna, que acaba de lançar a 4ª edição de "A Moda é Viola - Ensaio do cantar caipira", obra que é o maior referencial do cancioneiro de alma matuta, fonte múltipla de estudos e que tem exatamente no "Boi Soberano" sua maior inspiração.

Professor Romildo explica que as músicas que exaltam o animal refletem essa transferência dos atos de coragem e valentia para o boi em detrimento do próprio caipira. "Os protagonistas caipiras são geralmente encolhidos, retraídos, parece que premeditadamente imbuídos da derrota que os apavora e desanima, e de um perene sentimento trágico da vida. Isto explica o fato de serem mais frequentes no cantar caipira as sagaranas de um herói boi do que do herói gente."

Um tema que, de fato, não conhece fronteiras. "Boi Soberano" é capaz de atrair atenção até mesmo de quem, à primeira vista, absolutamente nada tem a ver com o universo caipira, a exemplo do ilustrador Gustavo Pelissari, um capixaba de Vitória. Professor na escola de artes Arcane, na capital do Espírito Santo, ele se encantou pela história contada na música a ponto de levá-la para uma de suas aulas de desenho ao vivo, no Youtube. "É uma canção especial, muito importante pra mim e que me toca", diz o artista, especializado em dar vida a heróis e vilões em HQs, animes e mangás. Dessa forma, o boi Soberano, um autêntico símbolo caipira, é um pouco pop também.

Comitiva de saudade

Colaboração/Giani Maira

Nossa cultura é essencialmente caipira. Remete ao tempo das sagas movidas pela força das tropas, pela determinação de pioneiros que ignoravam os inúmeros obstáculos em época sem energia elétrica, sem asfalto, sem absolutamente nada do conforto atual. Assim é que a região foi forjada e por isso reverenciar este passado é tão importante.

Uma das melhores reverências vem das comitivas boiadeiras, que recriam um pouco daquela atmosfera típica da época da velha Estrada Boiadeira que atravessava esta "boca do sertão" rumo às barrancas do rio Paraná.

E uma das que se destacam carrega o emblemático nome de Comitiva "Boi Soberano", numa homenagem à moda que permanece atual como a bandeira de um tempo marcado pelo vermelho da poeira das estradas. É formada por um grupo de apaixonados pela vida tropeira que vive em Tanabi, Bálsamo, Mirassolândia e outras cidades da região de Rio Preto. O objetivo é exatamente o de recordar o transporte das boiadas, de reviver os costumes dos antepassados, de resgatar as tradições rurais genuínas e de valorizar as manifestações culturais do homem do campo, como as modas de viola, a dança do catira e a folia de reis.

Como se nota, parafraseando a moda histórica, "ninguém mata o Soberano" e também ninguém mata a cultura caipira.

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