Uma fruta que não é muito conhecida em tempos de tanta tecnologia e brincadeiras cibernéticas, mas muitas pessoas de outras gerações, dos passeios pelas matas ao redor das cidades, dos quintais das casas onde as famílias plantavam muitas árvores frutíferas, com certeza vão se lembrar da gabiroba. Quem provou, garante que o sabor é inesquecível e remete muito à infância. Foi assim, sem imaginar, depois de 30 anos plantando a gabiroba no sítio em Monte Aprazível, que "seu" Hilo ficou muito conhecido e recebe fregueses de várias cidades da região, em busca da frutinha desconhecida por alguns e pouco comercializada nas cidades.
Conhecido por Hilo, o agricultor Hermínio Lourenção Neto, 75 anos, plantou manga, caju, abacaxi, jaca, graviola, caqui e um tanto mais de frutas, mas a gabiroba é a que mais faz sucesso no pomar de "duas ruas", um espaço pequeno, onde os agricultores denominam as plantações no campo. "Vem gente de todo lado procurar a gabiroba. Muitas pessoas falam que não encontram em feiras ou supermercados para comprar, então vêm aqui para o meu sítio", conta "seu" Hilo.
Ainda menino, seu Hilo diz que corria pelas matas em busca da gabiroba e, depois de adulto, como agropecuarista, plantou alguns poucos pés da fruta para o próprio consumo. No início, precisava sair vendendo os frutos pelas ruas, mas os clientes não davam muita atenção, pois não conheciam a gabiroba. Hoje, ele se surpreende com as vendas que faz dos cerca de 300 pés da fruta plantados em seu sítio de 60 hectares.
A gabiroba ou guabiroba, segundo o agricultor, é uma fruta nativa do cerrado, com um sabor muito diferente de outras frutas. "São pequenos frutos de cor verde, com algumas sementes". O manejo com as árvores é muito simples, como explica Lourenção. "Não é uma árvore que exige muitos cuidados e nem mesmo poda".
A colheita da gabiroba ocorre nos meses de outubro, novembro e início de dezembro. "Agora já estamos chegando quase no final da colheita", disse o agricultor. Ele explicou ainda que a gabirobeira possui uma florada, a partir do mês de setembro, com a flor de cor branca. Mas Hilo lembrou que é uma florada irregular, não necessariamente em todas as árvores.
"Nunca coloquei adubo na plantação de gabiroba", avisa o agricultor quando indagado sobre o que utiliza no manejo. Água também, conforme o agricultor, só a da chuva, sem a necessidade de irrigação. Ele também não usa nada de agrotóxico, nem nas árvores de gabiroba nem nas demais árvores do pomar. "A população não tem ideia do tanto que come fruta com agrotóxicos".
As vendas com os frutos de gabiroba são feitas por encomenda, e Hermínio Lourenção se orgulha ao contar que os clientes viajam de cidades como Turiúba, Fernandópolis, Mirassol, Rio Preto, Poloni, entre outras, só pelo prazer de saborear a gabiroba. "Eu vendo o litro de gabiroba por R$ 5,00, mas um amigo levou na feira e vendeu a R$ 10,00, acabou bem rapidinho, para ver como o povo gosta dessa frutinha."
A gabiroba também pode ser conhecida por guavira, gabiola ou gabiroba-do mato, sendo da família das Mirtáceas- Myrtacea, a mesma da goiaba, pitanga e jabuticaba. A engenheira agrônoma Heloisa Pinto César explica que a árvore de gabiroba é uma planta nativa do Brasil, com plantações de maior número nas regiões do cerrado e do Sudeste, nos estados de Minas Gerais, Goiás e São Paulo.
"A planta da gabiroba é pouco exigente em termos de fertilidade do solo e por isso a distinguíamos como uma planta rústica, exatamente pelo fato também de ser característica do cerrado", diz Heloisa. A árvore floresce, segundo a agrônoma, entre os meses de setembro e outubro, com frutos maduros em novembro e dezembro.
A gabirobeira, diz Heloisa, produz muitos frutos em uma mesma árvore, que devem ser colhidos rapidamente e consumidos no período de cinco a sete dias, "como acontece com a jabuticaba". Outro aspecto que a agrônoma destaca é que a árvore da gabiroba pode ser aproveitada para a arborização no geral e recomendada para recuperação de área degradada.
Uma curiosidade é que a gabiroba foi muito disseminada pelos animais. "A cuíca, que é um marsupial, muitas vezes confundido com o gambá, é um animal considerado preservador da gabiroba, por espalhar as sementes", afirma. Os pássaros também gostam muito da gabiroba e acabam contribuindo com a germinação da árvore.
Heloisa também lembrou a memória afetiva que a gabiroba traz às pessoas mais velhas. "As crianças de antigamente, principalmente as do interior do Brasil, têm na memória a história de caçar gabiroba. Elas entravam no mato, em busca da fruta, o que era considerado uma aventura", concluiu. (CC)
Os benefícios nutricionais da gabiroba são muitos, mas principalmente a fruta é rica em vitamina C, com potencial antioxidante, de acordo com informações da nutricionista integrativa Flávia César. "A gabiroba é uma fruta da mesma família das goiabas e a ação antioxidante combate os radicais livres, que causam o envelhecimento da pele", explica a nutricionista.
A gabiroba pode ser consumida in natura, mas também em forma de sucos, sorvetes, licor e até mesmo na salada. Por possuir a pectina, uma fibra solúvel encontrada também na maçã e na laranja, a nutricionista explicou que a pectina gera saciedade e pode contribuir no emagrecimento.
Ainda dentro dos benefícios nutricionais da fruta, Flávia complementa que a gabiroba também possui ferro, que ajuda no combate da anemia, e polifenóis, que desempenham ação antioxidante no organismo. "A gabiroba pode ser fonte de cálcio ainda, atuando na prevenção da osteoporose. A fruta possui baixo índice glicêmico, um fator que pode prevenir o diabetes." (CC)