A relação entre irmãos é uma dos mais especiais dentro do universo afetivo. Não é para menos. Os irmãos têm uma importância fundamental no desenvolvimento da personalidade, na formação de vínculos duradouros e no aprendizado mútuo, habilidades que irão repercutir por toda a vida.
"Além do laço sanguíneo, é possível observar uma forte ligação afetiva, estabelecida pela convivência e compartilhamento de experiências do cotidiano", explica Robinson de Vargas, especialista em gestão de pessoas e coordenador do ensinos fundamental e médio no Colégio Marista.
Para a psicóloga Adriana Leônidas, professora da Universidade de Taubaté (Unitau), a rivalidade entre irmãos é natural e frequente, pois o desenvolvimento humano se dá a partir desses confrontos. "Especialistas ainda apontam que as brigas são comuns durante a infância e adolescência, porém tendem a desaparecer na fase adulta", explica.
Entretanto essa aproximação e amadurecimento não é uma regra. Segundo Luiza Maria, psicoterapeuta e professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), alguns conflitos permanecem e vão se arrastando até a vida adulta, principalmente por diferenças de temperamento.
Os benefícios gerados pelo vínculo entre irmãos são diferentes em cada fase da vida. Na primeira infância, por exemplo, a ligação fraterna desenvolve diversas habilidades emocionais, além de encarar processos mais desafiadores, como o fato de precisarem lidar com as diferenças individuais. "Aprender a respeitar o outro, com as suas próprias características, é um bom exercício de empatia, uma habilidade socioemocional essencial a ser praticada nos dias atuais", explica Robinson de Vargas.
Nos momentos em que as discrepâncias de idade e as diferenças individuais vierem à tona, causando possíveis conflitos, é essencial que os pais estejam presentes. O papel da família é o de atuar como mediadora, ensinando as crianças a lidarem da melhor forma com sentimentos e emoções que, dependendo da idade, os pequenos ainda estão aprendendo a superar. Esses sentimentos podem incluir ciúme, inveja, raiva, entre outros sentimentos.
Não tome partido
Os pais devem evitar tomar partido de um deles, para não ampliar uma rivalidade desnecessária, não comparando os irmãos, pois cada indivíduo, mesmo que inserido em um ambiente comum, vai reagir de maneira única, de acordo com os seus recursos internos e habilidades. "O ideal é que os filhos sintam-se ouvidos, acolhidos em suas queixas, mas que os pais estimulem e acompanhem a resolução dos conflitos", diz o educador Robinson de Vargas. Irmãos naturalmente disputam o afeto, a atenção e o espaço na família. Este processo é fundamental no desenvolvimento da autoestima, autonomia e fornece elementos para ampliação da interação social.
Algumas atitudes são capazes de fortalecer o vínculo fraterno, como incentivar atividades em conjunto, compartilhamento de brinquedos, passeios e práticas de atividades físicas. Desta forma, eles podem se tornar companheiros. É importante lembrar que conflitos são esperados, o que vai fazer a diferença é a postura dos pais diante de uma circunstância como esta. É aconselhável sempre tentar estabelecer o diálogo, valorizar e reforçar as características positivas de cada irmão e da relação entre eles, e ajudá-los a refletir sobre os fatos que geraram conflitos, procurando a responsabilização que cabe a cada um dos envolvidos.
Quando os pais oferecem um bom exemplo, estimulando a escuta e a compreensão do outro, os filhos assimilam e internalizam esse comportamento. "Com isso, há uma facilidade de resolução de conflitos, o que reverbera em um amadurecimento das relações como um todo", diz Robinson Vargas.