O produtor rural Carlos Kenji, 68 anos, tem toda "uma vida" de dedicação à agricultura. São 40 anos na lida, iniciados na região de Mogi das Cruzes. Depois de uma passagem pelo Japão, Rio Preto foi o destino para se instalar e já são quase 12 anos produzindo legumes e verduras em uma área de 6,4 mil metros quadrados junto à mulher, Maria. Foi da atividade que os dois filhos foram criados. "Sempre vivi nessa área, faço porque gosto, porque o retorno é pequeno".
Ele é um dos 130 agricultores familiares de Rio Preto e região que integram o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), desenvolvido pela Prefeitura de Rio Preto junto ao governo federal e à Conab. O objetivo é fomentar a agricultura familiar e ajudar a escoar a produção, assim como atender à população em situação de vulnerabilidade.
Na propriedade de Kenji, saltam aos olhos alface, cheiro verde, couve, rúcula, brócolis, entre outras verduras. O trabalho diário é feito pelo casal e por dois funcionários. Por semana, cerca de 4 mil maços são colhidos e destinados à Cooperativa de Produtores Rurais de Rio Preto (Cooperiopreto) - que encaminha ao PPA - e a outros clientes na cidade, como restaurantes e açougues, assim como para a merenda. "Participar do programa é ter mais um ponto de entrega, o que facilita no escoamento da produção".
Cada produtor entrega uma cota ao programa, cujos valores somados podem chegar a R$ 26,5 mil por ano. Essa cota de produtos é dividida para que não falte nem sobre nenhum alimento, convergindo à missão do Banco de Alimentos - a redução do desperdício. "E quando tenho uma produção muito grande, já doo direto ao Banco. É uma satisfação muito grande porque sabemos que os alimentos vão para pessoas necessitadas. É fazer o bem".
O produtor rural Ronaldo Roversi destaca que a atividade agrícola requer investimentos constantes, especialmente em tecnologia e que, ao ter um contrato firmado, em que sabe o que vai receber, consegue ter maior tranquilidade para fazer os investimentos em sua propriedade. Ele produz hortaliças como alface, almeirão, couve, cheiro verde. "Participar do programa dá ânimo, dá tranquilidade para investir porque temos a segurança de que vamos receber o valor". Além do programa, ele vende sua produção familiar para a merenda escolar, restaurantes e lanchonetes de Rio Preto.
A propriedade rural da família Roversi fica na região de Talhados, tem um alqueire de área e produz cerca de 30 mil maços de hortaliças por mês. Atualmente, o agricultor investe em hidroponia e já tem 16 mil pés de alface nessa técnica de produção mais vantajosa do que o plantio diretamente na terra. "O custo de produção é menor, o manejo é mais fácil e a gente consegue produzir mais num espaço menor, sem contar que tem menos praga".
Cooperativa
Para participar do programa, o agricultor precisa ser membro de uma cooperativa. Em Rio Preto, é a Cooperativa de Produtores Rurais de Rio Preto (Cooperiopreto) que faz a ponte entre Secretaria de Agricultura, que gerencia o Banco de Alimentos, e os outros vetores do PAA: governo federal, municipal e Conab. O presidente da entidade, João Romeiro, explica que são 106 famílias cooperadas. Além de Rio Preto, há agricultores do entorno de cidades como Nova Granada, Nova Aliança e Urupês, na produção de legumes, verduras e frutas.
Romero destaca que, além dos altos custos de produção e de manejo, um dos problemas enfrentados pelos pequenos agricultores é o acesso ao mercado, daí o PAA funcionar como um aliado. "Muita gente sobrevive só desses programas. É que é uma atividade complexa: existe o atravessador, a instabilidade do clima, que interfere na produção. O programa ajuda a manter o pessoal na lavoura porque senão daqui a pouco não teremos mais gente produzindo alimentos".
Duas vezes por semana, a produção é entregue no Banco de Alimentos de Rio Preto, que faz a seleção, embalagem e destinação dos alimentos - seja para as instituições que fornecem refeições ou mesmo para associações que atendem à população em situação de vulnerabilidade. Romeiro participa do programa com sua produção de batatas e mandioca e também entrega, embaladas a vácuo, para supermercados.
Muitos produtores também atendem à merenda escolar, mais uma fonte de renda fixa.
Promover o acesso à alimentação, em quantidade suficiente e com qualidade, e fortalecer a agricultura familiar. Esses são os objetivos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), desenvolvido em Rio Preto nas três modalidades em que é oferecido: municipal, Conab e institucional.
Ao todo, 130 produtores rurais são beneficiados e 2,5 mil famílias são atendidas. No primeiro semestre, das 339 toneladas de alimentos distribuídas na cidade, 180 vieram dos pequenos produtores. A produção regional inclui abobrinha, cenoura, beterraba, repolho, berinjela, frutas, alface, couve, acelga e muito mais.
O Banco Municipal de Alimentos, equipamento administrado pela Secretaria de Agricultura dentro do Programa Alimenta Rio Preto, é quem faz a distribuição dos alimentos. O Banco recebe os produtos das cooperativas que integram os programas, monta as cestas de alimentos e faz a distribuição a 95 instituições, que servem refeições e atendem às famílias em situação de vulnerabilidade social. Além desse trabalho, o Banco recebe doações de dez parceiros fixos, entre supermercados e bancas de frutas e agora trabalha para aumentar essa captação.
Segundo Claudinéia Delfino, chefe de gabinete da Secretaria da Agricultura e coordenadora do PAA, as cestas são montadas e encaminhadas a associações ou representantes de comunidades, que levam para as famílias. Dessa forma, os dois lados do programa são beneficiados. "Ajudamos a minimizar a pobreza e trabalhamos para fomentar a agricultura familiar, para que o produtor continue no campo e tire de lá a sua renda".
No PAA municipal - feito com o governo federal - Rio Preto recebeu R$ 1 milhão em 2017. Para efeitos de comparação, todo o estado de São Paulo recebeu R$ 3 milhões. A pactuação seguinte, uma espécie de contrato, foi da ordem de R$ 500 mil, dos quais 86% dos recursos já estão executados. "O prefeito Edinho Araújo já esteve em Brasília para buscar uma terceira. Vai depender da disponibilidade de recursos", disse.
No PAA Conab, cujos recursos vêm do Ministério da Cidadania, as cooperativas e associações interessadas são selecionadas pelo órgão e Rio Preto funciona como unidade recebedora de uma associação, atualmente, de Promissão.
No PAA Institucional, com recursos do município, os alimentos vão para serviços de proteção social básica e especial e pessoas em situação de vulnerabilidade, podendo atender equipamentos públicos como escolas, zoológico e Corpo de Bombeiros. "Como o número de produtores é grande, o Banco não o atende individualmente, ele tem de estar organizado em cooperativa ou associação", explica. (LM)