Um quarto da população mundial possui anemia, que é considerado o problema de saúde mais frequente no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Só em Rio Preto, em 2017, 49 pessoas foram internadas em decorrência da doença. No ano seguinte foram 25 internações e este ano a cidade já soma 16 internações, segundo o Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS), do Ministério da Saúde.
Os números, no entanto, não refletem quantas pessoas possuem a doença na cidade, apenas quantas foram internadas em hospitais por consequência da anemia. Um mapeamento realizado pelo Instituto Naoum de Hematologia com sua base de pacientes mostra que, do total de casos investigados entre a população anêmica em Rio Preto, cerca de 70% são decorrentes de deficiência de ferro, 15% de anemias hereditárias e o restante decorre de outras deficiências vitamínicas, problemas autoimunes, doenças crônicas e câncer.
A doença parece algo simples, mas pode causar uma série de consequências, como desmaios, falhas neurológicas e cardíacas, até câncer. Casos muito graves são menos comuns, mas podem levar ao choque e provocar a morte do paciente. No ano passado, dez pessoas morreram em Rio Preto em decorrência da anemia segundo o Datasus. Neste ano foram quatro mortes.
As anemias têm origem em problemas hereditários ou adquiridos e o tipo mais comum é por deficiência de ferro - que é adquirida -, respondendo por metade das ocorrências.
De acordo com o médico hematologista Flávio Augusto Naoum, a doença apresenta dois perigos: de um lado, há os sintomas diretamente relacionados, como cansaço, fraqueza, dores nas pernas e tonturas, entre outros, que podem sobrecarregar o organismo e o coração, além de prejudicar o rendimento. Do outro lado, existe o problema causador da anemia, que é a raiz do problema e que pode variar, desde a um simples erro de dieta, menstruação abundante, até a um câncer gástrico ou intestinal ou ainda leucemia. "Toda anemia tem causa, que deve sempre ser investigada pelo médico e combatida", enfatiza.
A anemia pode ser observada em até metade das crianças com menos de cinco anos de idade. As mulheres também representam uma fatia significativa: uma em cada quatro mulheres que menstruam e em uma a cada três gestantes têm a doença. "Devido ao alto risco de anemia nesses grupos, a Organização Mundial da Saúde recomenda suplementação preventiva de ferro em crianças até os dois anos de idade e em gestantes", explica o hematologista.
Informações do sangue
Segundo Naoum, a maioria dos casos de anemia não são genéticos e decorrem de outros problemas de saúde ou hábitos de vida que a pessoa adquiriu, como a alimentação vegetariana ou vegana, problemas de absorção intestinal, sangramento menstrual abundante, cirurgias, entre outras situações.
Já no caso de anemias de origem genética, a frequência varia conforme a região. "Por exemplo, as talassemias, comuns em descendentes dos povos mediterrâneos, são frequentes no Sul do Brasil, ao passo que a doença falciforme, comum em afrodescendentes, tem sua maior expressão na Bahia", complementa o profissional.
Outra causa de anemia hereditária pode ser a talassemia, que leva a um defeito na formação da hemoglobina.
O especialista destaca que é importante esclarecer que a anemia, mesmo grave, não provoca leucemia. "As pessoas fazem muita confusão com isso. O que pode ocorrer é o inverso, a pessoa primeiro desenvolve a leucemia e depois apresenta uma anemia por conta disso", pontua.
Deficiência de ferro:
- Fígado (bovino, suíno ou de frango)
- Carne vermelha (cuidado com colesterol)
- Ostras e moluscos
- Camarão
- Sardinha
- Cereais enriquecidos em ferro
- Feijão e lentilhas cozidos
- Folhas verdes escuras (couve, rúcula, agrião, almeirão, brócolis etc.)
Deficiência de vitamina B12:
- Fígado
- Carnes (bovina, suína, frango, carneiro)
- Ovos cozidos
- Leite de vaca
- Queijo
- Peixes e moluscos
Deficiência de ácido fólico:
- Verduras (espinafre, couve, brócolis, alface)
- Fígado
- Aspargos
- Frutas (mamão, abacate, morango, laranja)
Deficiência de potássio:
- Banana
- Abacate (cuidado com as calorias)
- Laranja
- Beterraba
- Brócolis
- Couve-de-bruxelas
- Cenoura (crua)
- Lentilha
- Espinafre
- Tomates
- Grãos e sementes
- Iogurte
Alto índice de ácido úrico, evite:
- Anchova, mexilhão
- Sardinha
- Coração e fígado
- Bacon
- Carnes e molho de carne
- Bebida alcoólica (cerveja)
- Frutos do mar
- Feijão e lentilha
Fonte: Instituto Naoum de Hematologia
Nádia Gimenez dos Santos tem uma rotina puxada: além de trabalhar como auxiliar de limpeza em um hospital, com turnos de 12 horas em dias alternados, nas folgas ela faz faxinas em casas particulares para complementar a renda da família.
Para seu espanto, descobriu que estava com anemia ao fazer um exame periódico solicitado pela empresa em que é registrada. "Eu estava com a ferratina muito alterada e a médica achou estranho, questionou se eu não sofria nenhum sintoma. O mais curioso é que nunca senti nada, mas acho que em meio a tanta coisa que faço, nunca tive tempo para perceber", brinca.
Após procurar um especialista, Nádia mudou a alimentação e começou a consumir comprimidos mastigáveis de sulfato ferroso, além de medicação intravenosa, durante dois meses seguidos. "Depois desse período, fiquei um tempo somente com os comprimidos, até que meus exames foram normalizados", conta.
A fraqueza e o cansaço são os principais sinais da anemia, que geralmente são agravados de acordo com o esforço. Além disso, podem ocorrer falta de apetite, fadiga, dificuldade de aprendizado, sensação de dor ou peso nas pernas e unhas frágeis.
Nas anemias mais acentuadas, é possível notar a palidez na pele e nas mucosas - a icterícia, que é tonalidade amarelada na pele e nos olhos, pode ser observada nas anemias hemolíticas, em que a há destruição dos glóbulos vermelhos. "E ainda, nas anemias por deficiência de ferro, pode-se notar queda de cabelo e unhas quebradiças", complementa Naoum.
As células precisam de oxigênio para funcionar e quem faz essa condução é a hemoglobina, que se encontra dentro do glóbulo vermelho.
Pessoas com anemia têm diminuição da hemoglobina circulante no sangue e a repercussão disso é um sofrimento metabólico dos tecidos e células pela falta de oxigenação adequada.
Por vezes, o aparecimento da anemia depende de mais de um fator predisponente. "Por exemplo, imaginemos duas mulheres que menstruam de forma abundante. Se, além disso, uma delas for vegetariana, o risco de desenvolver anemia mais rapidamente ou mais intensa passa a ser maior", esclarece o hematologista.
A prevenção e o controle da anemia dependem das causas da doença - uma alimentação correta e rica em ferro, vitamina B12 e ácido fólico ajuda nos casos em que há risco de deficiência destes elementos, mas já não fazem diferença no caso de anemias hereditárias.
Se a anemia for decorrente de deficiência de ferro, há necessidade de correção alimentar e suplementação medicamentosa deste elemento, que pode ser feita por gotas, comprimidos ou de forma injetável.
Da mesma forma, recomenda-se suplementação nos casos de deficiência de vitamina B12 e de ácido fólico. "Quando a anemia decorre de outras doenças como insuficiência renal, câncer, úlceras ou inflamações no estômago e intestino, o tratamento da doença de base deve ser o foco", ressalta o profissional.
Outra questão recorrente em pacientes anêmicos são as perdas invisíveis de sangue, cuja principal causa nos homens e em mulheres após a menopausa são decorrentes de inflamações ou ulcerações no estômago ou no intestino.
Na maioria das vezes, o sangramento, embora persistente, é discreto o suficiente para não ser notado nas fezes. Nestes casos pode-se realizar, em laboratório, uma pesquisa de sangue oculto nas fezes, ou mesmo uma endoscopia ou colonoscopia.
Já nas mulheres em idade fértil a principal causa de anemia é o fluxo menstrual abundante, pois leva à perda de sangue e do ferro contido nele.