Seja por fatores econômicos ou pela consciência ambiental, os rio-pretenses estão optando mais pelo uso de etanol. Dados do "Anuário Energético por Município no Estado de São Paulo - 2019" apontam que o consumo do combustível à base de cana-de-açúcar subiu 30% em 2018, comparado a 2017. Com menos gasolina nos carros, quem ganha é o meio ambiente: o mesmo estudo mostrou que a emissão de CO2, um dos gases do efeito estufa, diminuiu na cidade. As notícias são celebradas como positivas para este 14 de agosto, Dia Mundial Contra a Poluição.
O Anuário Energético, elaborado pela Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente do Estado, compilou dados sobre as principais fontes energéticas consumidas pelos 645 municípios paulistas e também sobre as emissões de dióxido de carbono (CO2). Os dados usados para a edição deste ano são referentes a 2018.
Segundo o estudo, em 2017, Rio Preto consumiu 108,3 milhões de litros de gasolina. No mesmo ano, relatório da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), o qual leva em conta dados de uma série de poluentes, mostrou que o ar na cidade era o sétimo pior do interior do Estado entre 32 estações. Um ano depois, o Anuário Energético aponta que a cidade consumiu 20,9 milhões de litros de gasolina a menos e fechou 2018 com um consumo de 87,4 milhões de litros do combustível de origem fóssil.
Na outra ponta, com uma frota de 155.680 veículos flex e 21.940 veículos movidos apenas pelo combustível produzido pela cana-de-açúcar, a cidade passou de 144,7 milhões de litros de etanol em 2017 para 189,4 milhões de litros no ano passado.
O consultor de vendas Elvis Cláudio Ignácio, 48 anos, abastece apenas com etanol. "Faz uns quatro anos. Para mim, o carro tem uma desempenho melhor e polui menos o meio ambiente", afirmou. "É uma fonte de energia que a gente produz e deveria valorizar mais", completou.
Poluição CO2
Rio Preto tem a 15ª posição entre as cidades paulistas no ranking das que mais consomem energia em geral. E é a 14ª cidade do Estado que mais emite dióxido de carbono. O estudo levou em conta emissões de CO2 provocadas pelo consumo de gás natural, gasolina automotiva e de aviação, óleo diesel, óleo combustível, querosene iluminante e de aviação, GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), coque de petróleo e asfalto.
Nesse critério, o município registrou uma queda considerável - de 771.300 toneladas de CO2 jogadas na atmosfera, em 2017, para 755.500 no ano passado. O levantamento não aponta uma relação direta entre a queda do consumo de gasolina e as reduções do poluente, mas especialistas confirmam a relação.
Segundo o engenheiro civil e sanitarista José Mário Ferreira de Andrade, o aumento do consumo de etanol significa que estamos reduzindo as emissões de poluentes atmosféricos, "principalmente o gás carbônico, cujo aumento de concentrações na atmosfera provoca o aquecimento global", explicou.
Na análise do engenheiro, Rio Preto conta com duas ferramentas contra o aumento da geração de poluição - o aumento do consumo de etanol e a usina de compostagem, que evita produção de metano no aterro sanitário, "um gás de efeito estufa 21 vezes mais maléfico que o gás carbônico", afirmou.
O professor aposentado pela Unesp e diretor técnico do GEA Laboratório de análises ambientais, Samir Felicio Barcha, é mais cauteloso. "Fico cético se essa queda [consumo da gasolina] vem de uma conscientização. De qualquer forma, a diminuição de CO2 na atmosfera já é uma coisa positiva", analisou.
De forma geral, a bióloga Valéria Stranghetti afirma que a notícia do aumento do consumo de etanol pode ser celebrada neste Dia Mundial Contra a Poluição. "O etanol para a natureza é muito melhor porque a gente deixa de queimar combustível fóssil, que é o grande problema", afirmou. "E com a proibição da queima da cana-de-açúcar [na colheita], a gente tem um ganho maior ainda", completou.
O sonho de pesquisadores e ambientalistas é um país movido com fontes energéticas de baixo impacto ambiental, como o carro do arquiteto Andre Attab, à base de energia elétrica. O veículo, um BMW i3, roda 155 quilômetros com um "tanque" de carga e percorre ruas, avenidas e estradas sem poluir a natureza.
"Em um país cada vez mais impermeável, onde a gente não tem muita natureza, você poder colaborar minimamente com um veículo que não causa dano ao meio ambiente e te traz conforto é muito bom", afirmou. "Pena que a gente caminha em passos minúsculos e a gente não vai ver isso no Brasil. Mas é sempre uma semente", completou.
Nesta linha, a bióloga Valéria Stranghetti chama atenção para a necessidade de mudanças que façam diferenças consideráveis. Para começar, segundo Valéria, seria necessário reduzir o uso de diesel - pelos dados do Anuário Energético 2019, em Rio Preto foram consumidos 197,2 milhões de litros de diesel em 2018.
O combustível é a energia do transporte público, de veículos de médio e grande porte e também do transporte rodoviário. "Deveríamos aproveitar mais os nossos rios e pensar mais nas ferrovias", afirmou a bióloga. "Também deve-se pensar em novas formas de combustível, como o biogás, já usado em algumas cidades brasileiras", disse a bióloga.
Valéria lembra ainda da necessidade de recuperar os recursos naturais, como forma de combate às mudanças climáticas. "O CO2 não é grande o vilão. Temos outros fatores que contribuem, como o desmatamento, a impermeabilização dos solos [asfalto], as florestas praticamente não existem mais", apontou. (FP)