A maioria das pessoas vive num ritmo frenético, com cobranças excessivas, pressão no trabalho, em casa, nas relações sociais. Há ainda quem acrescente a tudo isso as frustrações do passado, realizações ruins e decepções que podem agravar o quadro de ansiedade pelo que ainda está por vir, pelo que não aconteceu e pelo que não se tem garantia alguma de que irá acontecer. São muitos os acontecimentos aos quais elas são submetidas e que direta ou indiretamente influenciam a vida, os planos e, consequentemente, os sonhos. O grande problema é que, enquanto essas pessoas transitam entre o passado e o futuro, esquecem de viver o presente.
A coach e psicóloga comportamental Bianca Toledo fala exatamente sobre isso no livro "Reciclagem Emocional" (ed. Planeta). "Enquanto o tempo passa e hesitamos entre o passado e o futuro, esquecemos de viver o presente, tempo que decidirá todas as coisas e as próximas experiências que nos aguardam pela frente. A única certeza que possuímos já não diz respeito ao passado sobre o qual não temos mais poder, tampouco se refere ao futuro que ainda não decidimos como será. A única certeza possível hoje, agora, é o presente", diz no livro.
O psicólogo Alexandre Caprio diz que não importa só como as coisas acontecem e as memórias que nós temos de como aconteceram. O que realmente interfere no nosso futuro quando nos apegamos muito, nos firmamos nas lembranças e nas memórias, é também como nós percebemos as coisas que acontecem. Somos criados, segundo ele, num modelo em que fazer coisas boas são colocadas apenas como nossa obrigação e os erros são rotineiramente apontados e superestimados. Isso faz um estrago danado. Criamos um banco de dados apenas baseado nas falhas e nos erros, sem memorizar o acerto da mesma maneira. Isso é muito perigoso porque crescemos e mantemos uma estratégia parecida. "Ou seja, acreditando que todos os acertos e coisas boas que fazemos são nossa obrigação e colocando os erros em evidência, em uma espécie de 'altar', sofremos muito com eles e nos envergonhamos", explica.
Errar é importante para o aprendizado. "O risco é que, se você só soma pontas quando erra e não quando acerta, criará uma balança terrível na sua memória que faz com que você se lembre apenas das falhas", complementa Caprio. Você corre o risco de criar a ilusão de que sua vida foi uma tragédia, que só fez coisas erradas e que tudo deu errado, o que vai alterar sua percepção do tempo, uma vez que paralisa seu presente e compromete seu futuro.
"O cérebro funciona baseado no que aprendemos. É comum esperar que aconteça apenas o que já aconteceu. É o que chamamos de experiência. A grande pergunta que se tem a fazer para sair do piloto automático é: que experiência você tem a respeito do amor (com seus pais, nos seus próprios relacionamentos)? Que experiência você tem desde a infância com o dinheiro?", sugere a psicóloga Karina Rodrigues.
"Só conseguimos agir baseados no que nós já sabemos e aprendemos na nossa vida", diz Karina. Assim, muitas vezes hoje estamos reagindo às situações do passado. "Uma pessoa que foi muito pobre por exemplo, mesmo depois de ganhar dinheiro pode continuar tendo hábitos antigos", explica. Atualmente existem inúmeras técnicas que poderão ajudar a sair do piloto automático, a dar novo significado às crenças que te limitam e sufocam seu potencial.
Ainda que o ser humano tente dividir o tempo em segundos, minutos, horas, dias, e daí por diante, na verdade, o tempo faz parte de um ininterrupto processo, inserido no nível do eterno, que não pode ser conhecido por nossa limitada capacidade de compreensão. "Essas divisões são criadas a partir da insegurança humana frente a sua limitação", diz o psicoterapeuta e professor universitário Renato Dias Martino. Não podemos chamar de realidade aquilo que está no futuro ou aquilo que já passou. "Quando estamos apegados a fatos passados ou àquilo que ainda não aconteceu, é um sinal de que não estamos funcionando de forma saudável", complementa. Angustiados, ficamos presos no que já passou e quando estamos ansiosos, o que nos aprisiona é o que ainda não aconteceu", complementa.
"Ainda assim, o espaço/tempo do aqui e do hoje é uma dádiva da vida que estamos muito pouco preparados para desfrutar, sobretudo nos tempos contemporâneos, onde a materialidade das coisas parece ter enorme importância. Na busca desmedida pelo bem material, a realidade, que se faz no agora e aqui, acaba por passar despercebida. O apego ao bem material faz com que a mente fique inundada de pré-ocupações e isso impede o sujeito de se ocupar de qualquer coisa que não seja material", explica Martino. A expectativa do que irá acontecer é sempre ilusória, já que o que virá é um mistério e só pode ser mantido através de suposições. Por outro lado, aquilo que aconteceu no passado só se mantém através da memória, e a memória é seletiva e traiçoeira, por misturar-se ao conteúdo impensado da mente, anulando seu acordo com a realidade do que ocorre no presente.
Na verdade, o apego tanto ao tempo passado quanto ao futuro revela-se como uma grande defesa para aquele que não está sendo capaz de se responsabilizar pela realidade, que só se configura no tempo presente. "Quando se está sendo capaz de viver o presente da forma mais saudável possível, responsabilizando-se por aquilo que estamos sendo no aqui e agora, propiciando experiências bem-sucedidas, o registro que ficará sobre o que passou deve configurar-se em recordações cheias de afeto", explica Martino. Da mesma maneira, a expectativa de futuro deve se apaziguar, sem ansiedade, se transformando em esperança - uma em que o presente seja recebido como uma grata experiência.