- sábado, 09 de junho
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Completam-se nesta segunda-feira, 11 de junho, cinco anos da morte do ex-líder da comunidade negra, considerado o mais ilustre representante da raça em Rio Preto, Aristides dos Santos. Ele morreu no dia 11 de junho de 2013, aos 99 anos de idade, e foi sepultado no Cemitério Jardim da Paz.
Aristides dos Santos nasceu no dia 10 de fevereiro de 1914. Faltavam apenas oito meses para que completasse um século de vida, mas uma queda em casa fragilizou de vez a sua saúde e fez com que partisse naquele dia de São Barnabé. Santo, aliás, cujo nome significa “homem esforçado”. E como seu Aristides esforçou-se ao longo de seus quase 100 anos de existência pela valorização do negro na sociedade.
Não por acaso, foi merecedor de todas as homenagens que recebera. Na festa de seus 92 anos, em 2006, por exemplo, recebeu na Câmara Municipal o Troféu Fidelidade, pelos bons serviços prestados à sociedade, e uma homenagem do Conselho Afro-Brasileiro de Rio Preto, do qual ele era presidente de honra. Também deu seu nome a uma galeria na Secretaria Municipal dos Direitos e Políticas para Mulheres, Pessoa com Deficiência, Raça e Etnia, inaugurada em 2014, a um Centro de Artes e Esportes Unificados (CEU), no Nova Esperança, e a duas praças - uma no conjunto habitacional Fraternidade e outra na Caic, bairro que foi o seu lar e do qual simbolicamente recebeu a chave do primeiro imóvel.
Ex-engraxate, Aristides dos Santos foi uma figura histórica de Rio Preto que, na definição da escritora Dinorath do Valle, foi o mais importante ativista negro da cidade, “pássaro que raras vezes desce à Terra” e também um “negro sagrado”.
Nascido em Campinas, seu Aristides fixou residência em Rio Preto ainda menino, em 1922. Foi comissário de menores nomeado (1959-1963) e denunciado e preso como comunista em 1964. Escreveu o livro “Pretos e Brancos: Somos Flores do Mesmo Jardim”, no qual alinha negros influentes de Rio Preto em todos os segmentos - de trabalhadores anônimos a autoridades e políticos.
A comunidade rio-pretense o considera símbolo da luta pela causa negra, responsável por manter viva a chama dessa mobilização. Paralelamente à militância racial, Aristides foi se juntando às forças da cidade e ajudou a fundar as entidades Marcílio Dias, Cruz e Souza, Ponte Preta e a Associação Cultural e Recreativa Rio-Pretense, voltadas para eventos da comunidade afro.
Ao Diário da Região, no especial “Seu Vizinho”, sobre a origem de bairros rio-pretenses, em 2006, ele definiu de um jeito muito próprio e carinhoso a maneira como via a cidade: “Gosto, acima de qualquer coisa, de Rio Preto, que acolhe bem as pessoas, sem formalidade. Às vezes, ando a pé para desfrutar a cidade, ver o povo, conhecer os prédios. O sol de Rio Preto é especial”.
Era irmão de Zé Pretinho, criador do primeiro bloco carnavalesco de Rio Preto, o Cruzeiro do Sul. Quando o Automóvel Clube inaugurou sua sede, na esquina das ruas Silva Jardim e Voluntários, os médicos, engenheiros e advogados e outras pessoas abastadas recebiam os membros do Cruzeiro do Sul. Eles eram pessoas simples. Zé Negrinho contava com o apoio do irmão Aristides e era muito rígido. Não permitia que os foliões do grupo bebessem no dia de Carnaval e exigia barba e cabelo bem feitos. Eram muito respeitados. O folião morreu em 1965, aos 53 anos.
Também atuou como servente de pedreiro, mecânico e engraxate. Foi nesta época, quando proprietário de uma engraxataria no centro da cidade (rua Bernardino de Campos, entre Jorge Tibiriçá e Silva Jardim), o Salão Central, em que foi preso pelas forças do Dops no auge da repressão militar, em 1964. Foi detido no instante em que abria as portas do estabelecimento, no mesmo dia em que ocorreu a histórica invasão dos militares à então Fafi (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras), atual ibilce/Unesp, que culminou com a cassação de quatro dos treze professores sob acusação de conspiração e ligação com o comunismo.
Seu Aristides ainda se engajou na produção de um livro com o conselho afro, sob o título “Rio Preto Negra”, contando a história do negro em Rio Preto, desde a escravidão até os primeiros passos da ascensão social, na figura de Pedro Amaral, primeiro mandatário do governo, espécie de prefeito da época, em 1899.
Viúvo, deixou quatro filhos: Noriel Augusto, Agnaldo César, Jorge Antônio e Silvina Maria.
Ficha Técnica
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