- Friday, 22 de February
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'Derrube os governos. Eles não, não falam por nós'
(No Surprise - Radiohead - 1997)
Resistir é um ato de coragem que implica numa série riscos. O risco do julgamento, o risco do contra-ataque e o risco da derrota. No entanto, resistir é preciso, e foi isso que a turma da Cia. Teatro de Riscos, de Ribeirão Preto, demonstrou na abertura da segunda edição da Mostra Cênica - Resistências, na última quarta-feira, 8, no palco do teatro do Sesc Rio Preto, com o espetáculo Ofélia / Hamlet Rock / Machine.
Despidos de roupas e de qualquer elemento que classifica e padroniza as pessoas na sociedade, o grupo encarou o desafio de levar para os palcos uma reflexão atualizada de Hamlet Máquina, peça icônica do dramaturgo alemão Heiner Müller, que fez uma releitura do clássico Hamlet, do inglês William Shakespeare, em consonância com a realidade sociopolítica da Europa do final dos anos 1970.
No palco, uma turma de jovens formados há cerca de seis anos no extinto curso de artes cênicas da Universidade Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, elevou a mulher ao posto de principal combatente na guerra cotidiana contra as mazelas sociais que aplacam não apenas o Brasil, mas praticamente todo o planeta.
Essa mulher é Ofélia, a mãe subjulgada no clássico de Shakespeare e exaltada na releitura de Müller, cuja voz ressoa em cada gesto de violência sofrido pelas mulheres ao longo da história humana.
Essa Ofélia, como classifica hoje o discurso machista, é uma 'feminazi', termo pejorativo que denigre a luta feminista pela igualdade de gêneros - igualando aos gestos do ditador nazista Adolf Hitler a resistência feminina numa sociedade patriarcal que impõe a milhões de Ofélias a condição de submissão ao homem.
Completamente nua e empoderada no palco, a atriz Nathália Fernandes desafia a plateia a estuprá-la, já que é culpa das mulheres (principalmente de suas vestimentas e atitudes) as violências sexuais cometidas pelos homens contra elas. Esse é o ponto alto da peça, em que o silêncio se estabelece de forma sepulcral na plateia.
No entanto, a força dessa cena abre margem para as 'riscos' da montagem da Cia. Teatro de Riscos, a começar pela desigualdade dramática entre Nathália e os outros atores, que não conseguem atingir o mesmo nível de tensão e vigor de sua companheira de cena - essa, sim, a grande Ofélia do espetáculo.
Diante do esforço físico do elenco em manipular as pesadas paredes do abrigo subterrâneo metálico que compõe a cenografia, as canções de Radiohead, pinçadas do disco OK Computer (1997) e relidas com originalidade pelo maestro Sérgio Alberto de Oliveira, tiveram sua interpretação ao vivo prejudicadas pelo cansaço.
Ao tentar atualizar o discurso do dramaturgo alemão, o grupo promove no palco um grande manifesto - um manifesto à favor da diversidade e da igualdade e contra toda e qualquer forma de opressão e de golpe. Só falta fazer com que o público engrosse esse coro, tornando a resistência imune a qualquer tipo de risco.
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